Caríssimos leitores,
é com um imenso prazer que venho por meio desta postagem, informar-lhes que pararei de publicar contos no blog para poder publicar meu livro de contos.
Assim que eu tiver mais detalhes lhes informo; por enquanto a data da previsão para a publicação é 14 de fevereiro de 2010, com uma média entre 20 e 30 contos.
Conto com o apoio de todos.
Atenciosamente!
narduci, renato ferreira
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Reflexo
O que você quer aqui de novo? Porque veio me buscar?
Saia de perto de mim.
Não me machuque; pare.
O que aconteceu com o seu rosto? Porque tens esse corte que lhe tira o sangue?
Fale comigo. Vamos conversar.
Porque essa faca? Não chegue perto de mim com ela.
Estás me assustando; vá para trás.
Você me parece embriagada; vá para casa, amanhã conversamos.
Não se atreva a encostar as mãos em mim de novo; eu não lhe fiz nada.
Solte meu braço.
Tire essa faca daí; amanhã conversaremos, juro.
Você cortou minha barriga; como pôde?
Sinto-me fraca, acho que estou morrendo.
Não me deixe morrer sozinha, deite-se comigo.
Camila foi encontrada morta com um corte de faca na barriga que ela mesma provocou. O que não entendi, é o porquê de ela estar em frente ao espelho.
narduci, renato ferreira
Saia de perto de mim.
Não me machuque; pare.
O que aconteceu com o seu rosto? Porque tens esse corte que lhe tira o sangue?
Fale comigo. Vamos conversar.
Porque essa faca? Não chegue perto de mim com ela.
Estás me assustando; vá para trás.
Você me parece embriagada; vá para casa, amanhã conversamos.
Não se atreva a encostar as mãos em mim de novo; eu não lhe fiz nada.
Solte meu braço.
Tire essa faca daí; amanhã conversaremos, juro.
Você cortou minha barriga; como pôde?
Sinto-me fraca, acho que estou morrendo.
Não me deixe morrer sozinha, deite-se comigo.
Camila foi encontrada morta com um corte de faca na barriga que ela mesma provocou. O que não entendi, é o porquê de ela estar em frente ao espelho.
narduci, renato ferreira
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Mentes Fracas
O telefone emitia incessavelmente um estridente ruído que se misturava com a música ambiente vinda da sala de centro daquela enorme casa.
Uma festa jovial acontecia lá, com muitas pessoas, músicas, bebidas, risadas, conversas e casualmente sexo e drogas.
Com os pais afastados do local, aquela jovem e linda garota dos cabelos pretos como o céu naquele momento e os olhos tão verdes que ora podia ser confundido com uma esmeralda, encostada no balcão da “cozinha americana”, se fez alerta ao som emitido pelo pequeno aparelho pendurado na parede ao seu lado, mas evitou que qualquer pessoa pudesse atender.
Seu nome era Ana por vontade de sua mãe, que sempre admirara esse lindo nome, e agora se fazia perfeito com a linda garota.
A festa continuava, assim como o som do telefone. Quase o desconectando do interruptor que o mantinha ligado, o som da música e apouca iluminação presente foram cessados simultaneamente.
Ana assustou-se levemente com o ocorrido, e dirigiu-se à chave que mantinha a energia da casa funcionando. Ao verificá-la, percebeu que estava normal. Apenas o telefone continuava emitindo som. Tão somente o telefone. Ana quase desmaiou ao perceber que nenhuma pessoa lá presente pronunciava algo, nem se quer moviam-se.
Tudo parecia desligado, exceto ela e o telefone. Algo sobrenatural acontecia lá.
Ana, com a pele mais pálida do que de costume, atendeu ao telefone, e a pronunciar uma saudação, foi derrubada por um som imensamente alto e agudo, deixando-a com a audição afetada por alguns minutos.
Ana adormecera caída ao chão daquele lugar, mas logo fora acordada por um ou dois jovens que lá estavam.
Com a consciência retomada, Ana percebeu que tudo estava de volta como antes, sem que nada tivesse acontecido.
A todos que a menina dos cabelos negros perguntava sobre o ocorrido, diziam-na que nada de incomum havia acontecido.
Ana chegou à conclusão que havia sido um sonho, um sonho que a deixou amedrontada; um sonho que realmente acontecera. Percebeu que realmente aconteceu, quando observou o telefone jogado ao chão, assim como ela estava há minutos atrás.
A festa só chegou ao fim com o surgimento do sol, uma linda bola amarela que trazia vida à tudo o que era visível ao redor.
Exausta de toda música e ocorridos na festa, Ana deitou-se, e, agora sim adormecera, desligando-se totalmente de seu corpo.
Enquanto dormia, Ana ouvia vozes que não existiam, ao menos para quem estava consciente.
Com a boca amarga e seca, Ana levantou-se inconsciente e dirigiu-se à cozinha, a fim se saciar sua interminável sede.
Ana despediu-se de seu pai, que estava assistindo televisão na sala, e voltou ao seu quarto escuro, embora o relógio indicasse 14h00min.
Já deitada na cama, e consciente agora, a menina se colocou a pensar no ocorrido com ela e com as estátuas humanas durante a festa, foi quando teve o corpo arrepiado, ao se lembrar do telefone, das vozes e de que seus pais estavam viajando.
Como que, por instinto, Ana encolheu-se na cama e logo se pôs em pé, se dirigindo à sala, lugar que aparentemente havia visto o seu pai.
Chegando ao local, Ana não pode ver nada mais do que o cômodo em plena ordem e sem visitante sobrenatural algum.
Novamente um susto, antes de dormir, a casa estava em desordem total, deixada assim pelos participantes da festa.
Visitou todos os cômodos da casa, a fim de achar qualquer vestígio de que lá havia tido uma festa ainda aquela noite, mas nada encontrou.
O pavor que Ana sentia, era como um truque de sua mente. Ana nada entendia, apenas sentia a fadiga de seu corpo e tornou a deitar-se em seu quarto.
Uma voz rouca e fantasmagórica tomou conta do ambiente, fazendo com que a menina derrubasse algumas lágrimas e pedisse para que a deixasse em paz.
A voz ficou ainda mais forte e cessou a fala indecifrável do mesmo modo que surgiu.
O telefone tocou.
Ana, agora vivenciando um filme de terror, na qual era a protagonista, desceu a escadaria de seu quarto e foi à part na qual se situava o telefone que Ana ouvira aquele estridente som.
Ana atendeu, e agora, a mesma voz sobrenatural que havia invadido seu quarto, a saudou e ordenou-a que cometesse suicídio.
Ana, como que hipnotizada, desligou o telefone, voltou a subir a escadaria que levava-a ao seu quarto, e do piso superior, se atirou no centro da sala. Sala que há horas atrás havia sido cenário de alegria, tomava agora o ar fúnebre.
O dia se passou, assim como a noite; e esse processo chamado tempo fez com que seus pais voltassem, encontrando-a morta naquele ambiente fétido.
A polícia não tardou a chegar assim que acionada pelos pais da menina linda dos cabelos negros e olhos cor-de-esmeralda.
Não tão rápido quanto os policiais, mas tão eficaz quanto, o motivo do óbito foi revelado, o qual mostrou que Ana havia ingerido uma grande quantia de ecstasy e cometido suicídio horas após.
O que a perícia não revela, e ninguém sabe, é o terror que Ana sofreu.
narduci, renato ferreira.
Uma festa jovial acontecia lá, com muitas pessoas, músicas, bebidas, risadas, conversas e casualmente sexo e drogas.
Com os pais afastados do local, aquela jovem e linda garota dos cabelos pretos como o céu naquele momento e os olhos tão verdes que ora podia ser confundido com uma esmeralda, encostada no balcão da “cozinha americana”, se fez alerta ao som emitido pelo pequeno aparelho pendurado na parede ao seu lado, mas evitou que qualquer pessoa pudesse atender.
Seu nome era Ana por vontade de sua mãe, que sempre admirara esse lindo nome, e agora se fazia perfeito com a linda garota.
A festa continuava, assim como o som do telefone. Quase o desconectando do interruptor que o mantinha ligado, o som da música e apouca iluminação presente foram cessados simultaneamente.
Ana assustou-se levemente com o ocorrido, e dirigiu-se à chave que mantinha a energia da casa funcionando. Ao verificá-la, percebeu que estava normal. Apenas o telefone continuava emitindo som. Tão somente o telefone. Ana quase desmaiou ao perceber que nenhuma pessoa lá presente pronunciava algo, nem se quer moviam-se.
Tudo parecia desligado, exceto ela e o telefone. Algo sobrenatural acontecia lá.
Ana, com a pele mais pálida do que de costume, atendeu ao telefone, e a pronunciar uma saudação, foi derrubada por um som imensamente alto e agudo, deixando-a com a audição afetada por alguns minutos.
Ana adormecera caída ao chão daquele lugar, mas logo fora acordada por um ou dois jovens que lá estavam.
Com a consciência retomada, Ana percebeu que tudo estava de volta como antes, sem que nada tivesse acontecido.
A todos que a menina dos cabelos negros perguntava sobre o ocorrido, diziam-na que nada de incomum havia acontecido.
Ana chegou à conclusão que havia sido um sonho, um sonho que a deixou amedrontada; um sonho que realmente acontecera. Percebeu que realmente aconteceu, quando observou o telefone jogado ao chão, assim como ela estava há minutos atrás.
A festa só chegou ao fim com o surgimento do sol, uma linda bola amarela que trazia vida à tudo o que era visível ao redor.
Exausta de toda música e ocorridos na festa, Ana deitou-se, e, agora sim adormecera, desligando-se totalmente de seu corpo.
Enquanto dormia, Ana ouvia vozes que não existiam, ao menos para quem estava consciente.
Com a boca amarga e seca, Ana levantou-se inconsciente e dirigiu-se à cozinha, a fim se saciar sua interminável sede.
Ana despediu-se de seu pai, que estava assistindo televisão na sala, e voltou ao seu quarto escuro, embora o relógio indicasse 14h00min.
Já deitada na cama, e consciente agora, a menina se colocou a pensar no ocorrido com ela e com as estátuas humanas durante a festa, foi quando teve o corpo arrepiado, ao se lembrar do telefone, das vozes e de que seus pais estavam viajando.
Como que, por instinto, Ana encolheu-se na cama e logo se pôs em pé, se dirigindo à sala, lugar que aparentemente havia visto o seu pai.
Chegando ao local, Ana não pode ver nada mais do que o cômodo em plena ordem e sem visitante sobrenatural algum.
Novamente um susto, antes de dormir, a casa estava em desordem total, deixada assim pelos participantes da festa.
Visitou todos os cômodos da casa, a fim de achar qualquer vestígio de que lá havia tido uma festa ainda aquela noite, mas nada encontrou.
O pavor que Ana sentia, era como um truque de sua mente. Ana nada entendia, apenas sentia a fadiga de seu corpo e tornou a deitar-se em seu quarto.
Uma voz rouca e fantasmagórica tomou conta do ambiente, fazendo com que a menina derrubasse algumas lágrimas e pedisse para que a deixasse em paz.
A voz ficou ainda mais forte e cessou a fala indecifrável do mesmo modo que surgiu.
O telefone tocou.
Ana, agora vivenciando um filme de terror, na qual era a protagonista, desceu a escadaria de seu quarto e foi à part na qual se situava o telefone que Ana ouvira aquele estridente som.
Ana atendeu, e agora, a mesma voz sobrenatural que havia invadido seu quarto, a saudou e ordenou-a que cometesse suicídio.
Ana, como que hipnotizada, desligou o telefone, voltou a subir a escadaria que levava-a ao seu quarto, e do piso superior, se atirou no centro da sala. Sala que há horas atrás havia sido cenário de alegria, tomava agora o ar fúnebre.
O dia se passou, assim como a noite; e esse processo chamado tempo fez com que seus pais voltassem, encontrando-a morta naquele ambiente fétido.
A polícia não tardou a chegar assim que acionada pelos pais da menina linda dos cabelos negros e olhos cor-de-esmeralda.
Não tão rápido quanto os policiais, mas tão eficaz quanto, o motivo do óbito foi revelado, o qual mostrou que Ana havia ingerido uma grande quantia de ecstasy e cometido suicídio horas após.
O que a perícia não revela, e ninguém sabe, é o terror que Ana sofreu.
narduci, renato ferreira.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Coulrofobia
Palhaços. Estranhos, enigmáticos, talvez até assustadores. Talvez não, palhaços, de fato, são assustadores.
O que muitos vêem em pessoas com os rostos pintados, usando roupas coloridas e largas e com um nariz vermelho. Eu vejo medo, pavor, terror.
Desde quando tenho minha primeira memória, tenho a imagem de palhaço, como um ser de certo, maligno. Eu posso até estar errado, mas o palhaço, de certa forma, é um ser místico, ao menos para quem o vê como eu.
Desde que aprendi a ler, comecei uma busca de forma insaciada, pelo tal ser místico.
Quando ainda era um pequeno garoto, comecei a associar alguns crimes que andavam acontecendo de modo costumeiro em minha pequena cidade no interior de um pequeno estado, que se situava no interior de um grande país, conhecido como Brasil.
Na época, surgiram algumas lendas de os criminosos cometerem seus atos ilícitos trajando roupas de palhaços, assim como as maquiagens por eles utilizadas.
Algo em isso começava a me fascinar pelo mundo do crime e me apavorar com os palhaços; não me fascinava pelo ato de cometer um crime, mas sim de participar desse ato; não como um criminoso, mas talvez, como um combatente dele.
Minha família, naquela época, era muito humilde. Não tínhamos uma boa qualidade de vida, aliás, nesse país que eu vos cito, e naquela época, não eram muitas as famílias que eram bem-sucedidas.
Como eu era pequeno, e tinha uma imaginação fértil, passava o dia todo pensando e planejando acabar com a ação dos criminosos.
Ficava o dia todo com a imagem de um palhaço em minha mente.
Eram poucos os meios de comunicações aquela época,e como não havíamos como adquirir esses meios, eu recebia o conhecimento desses atos costumeiros através do povo, logo, eu nunca tive um contato visual com um palhaço criminoso, então associava aquele ser místico que participava da decoração do berço de meu irmão menor a um assassino.
Era rotineiro eu sair da escola na qual eu estudava devido a bolsa que meu pai havia me concebido, graças ao seu novo emprego, tudo mostrava que nossa vida estava prestes a mudar. Mas como comecei a citar meu ato costumeiro, eu doucontinuidade à esse ponto.
A minha rotina era acordar, ir à escola, lá eu ganhava minha primeira refeição do dia, e ia assistir aula, terminadas as aulas, eu ia descobrir algo sobre os tais palhaços.
Geralmente eu freqüentava um galpão abandonado e me repousava lá, lendo sobre psicologia, criminalidade e até sobre as diversas religiões, a fim de encontrar algo aceitável pela minha fértil imaginação;
Não citei ainda à vocês leitores, mas para mim, os palhaços eram o que vocês conhecem como espírito. Para mim, uma pessoa nasce, vive, cumpre sua missão, morre corporalmente e vão para um cenário belo, a fim de dar todas as risadas que deixaram de dar ao longo de sua vida. Minha família sempre sofreu muito pelo fato de não sermos bem-sucedidos, e todos os membros dela trabalhavam até o exausto noturno, acho que por esse motivo eu imaginava a vida após a morte assim, um cenário alegre.
Como as pessoas que acreditam em espíritos, de um modo geral, sabem que existem espíritos bons, e espíritos maus. Alguns que ficam sobre nós, e alguns que se vão para ser reencarnados.
Para concluir meu pensamento de “vida”, lhes digo, que durante toda a minha, segui essa “religião” por mim criada. Eu acreditava que após a morte corporal, algumas almas iriam para esse cenário alegre que citei, outras não conseguiam chegar à esse lugar. Eu imaginava esse tal cenário, como uma festa à fantasia, na qual, em regra, todos eram amigos. As almas, ou os palhaços, como preferirem, que não conseguiam chegar à essa festa, ficavam entre nós, lutando para encontrar a entrada.
Muitos acabavam se zangando, e se tornando maléficos, como se quisessem apenas matar para ver se as novas almas que trajavam roupas de palhaços soubessem o caminho, e os ajudassem.
Como passei boa parte de minha vida procurando entender essa lógica, nem preciso citar quem eles começaram a “caçar”. Pois bem, caros leitores, foi a mim.
Estranhamente, eu não precisei perecer, para que eu pudesse começar entrar em contato com eles. E não só entrar em contato, mas também vê-los e toca-los, me tornando alvo fácil para que eu fosse vítima deles com maior facilidade.
Todos os lugares que eu ia, tinha um me seguindo, não sempre o mesmo, eram diversos, e às vezes, para aumentar o cenário horrendo, os diversos ao mesmo tempo.
Alguns deles segurando balões, alguns grandes, alguns pequenos, alguns magros, algumas.
A primeira visão que tive, foi tentando estabelecer contato, por simples hobbie. Foi horripilante, quando ele se fez visível em minha frente. Lembro até hoje daqueles dentes amarelos e afiados; aquela pele pálida e fria como um cubo de gelo; aquela expressão dura de ódio, misturada com um meio sorriso, talvez irônico, mas era um sorriso.
Se eu tivesse problemas cardíacos, eu poderia já ter me misturado a eles.
Não trocamos palavras alguma, ele apenas se fez visível por um momento, e sumiu, indo sei lá para onde, ou continuando ali, mas de modo que eu não pudesse o enxergar.
A imagem de uma bola redonda e vermelha que ficava à altura de minha testa, mas que fazia parte de seu nariz, ficou em minha mente, enquanto eu, inerte, retomava a consciência.
Os dias foram se passando, assim como os meses, chegando por fim, os anos, e durante essa transição de tempo, as visitas foram ficando cada vez mais freqüentes, mas mesmo com a freqüência e o costume de presenciar aquelas fantasias horrendas, o pavor não passava. Cada vez que eu presenciava a aparição de um deles, sentia meu corço arrepiando, do peito do pé à cabeça.
Não só os via, mas também conversava com eles, alguns inocentes querendo chegar à festa; alguns ameaçadores; alguns com a aparência de um, mas eram de outro tipo.
O que mais me intrigava nisso tudo, é que a minha mente infantil e fértil, estava certa sobre o decorrer da vida.
Eu não era uma pessoa igual às outras, isso já estava claro para mim, mas eu era também sensitivo a eles. Não sei se pelo fato de ser conhecedor da verdade, ou se eu já carregava isso em minha alma pintada.
Ficava refletindo, em horas de repouso, se eu acabaria que nem eles, sem ter um lugar para ir, matando pessoas à procura de ajuda.
Eu estava me tornando mais forte contra eles, eu queria que aquilo acabasse. Eu queria que eles encontrassem logo o que procuravam, e deixasse as pessoas inocentes em paz, para que elas seguissem suas vidas, até a morte, e assim, dar continuidade a esse interminável ciclo.
Eu já tinha alguns conhecimentos adquiridos.
Sabia que aquelas almas poderiam ser extintas de nosso meio. Eu tinha o conhecimento, na teoria, de como. Eles também sabiam que eu era a pessoa apta para ajudá-los.
Eles começaram fazer da minha vida um inferno, se é que existe um diferente desse mundo em que vivemos.
Nunca levei ao conhecimento de meus pais e de ninguém, sobre essa minha religião, mas os palhaços faziam de tudo para que eu contasse para todos. Eles gostavam desse tipo de jogo. Faziam isso para obter a minha ajuda, mas na verdade, se eu ajudasse-os, acabaria ganhando uma entrada antecipada para a tal festa.
Eles não tinham hora para atormentar meu sossego. Apareciam casualmente durante o jantar, enquanto estavam todos postos à mesa, geralmente um deles se sentava ao meu lado, era horripilante cear com um “monstro” ao seu lado, lhe dizendo coisas horríveis, e tu não poder nem olhar, para que ninguém percebesse; apareciam durante meus banhos, ou enquanto eu estava me barbeando no espelho do banheiro, algumas vezes, um se arriscava em fazer a minha barba enquanto me fazia ameaças e me pedia ajuda; sentavam do meu lado no banco do carro; ou ainda, deitava-se em minha cama, quando eu estava com minha namorada.
Por algum motivo, por até psicopatia, eu penso sempre no final antes, e depois reconstruo a história, deixando o começo sendo a ultima parte, talvez até sem importância.
Sempre pensei na ultima parte, como o encontro de palhaços, e extraindo-os da população. Mas nunca pensei no começo, em quando eu ainda era pequeno, em quando eu comecei a estudar sobre esses seres enigmáticos. Tudo foi influência de uma série de atos criminosos, nos quais os participantes se vestiam de palhaços.
Resolvi, dessa vez, esquecer o fim, e me focalizar no começo.
Os palhaços eram obstáculos em tudo quanto é tipo de pesquisa que eu iniciava. Se eu fosse usar o computador, lá estava um para cortar o cabo de energia. Se eu fosse à biblioteca, lá estava um para rasgar os jornais antigos os quais usei de base.
Foi então que decidi seguir o destino. Saí de casa com a desculpa de estudar fora. Em essas alturas, minha família já tinha construído um nome familiar importante, que duraria por gerações. Finalmente todo o trabalho, estava gerando algum retorno. Felizes eram eles, que tinham uma vida normal, que poderiam gozar do fruto de seus trabalhos. Mas sabiam o que lhe aguardavam ao outro lado disso tudo.
Buscando por registros policiais antigos, acabei em uma penitenciária, para visitar alguns dos criminosos que se vestiam de palhaços. Alguns já haviam morrido, e se tornado palhaços de verdade.
O que todos tinham em comum, era o fato de temerem palhaços, mas mesmo assim, trajar-se como eles.
Concedendo ao carcereiro uma boa quantia em dinheiro, consegui que eu tivesse uma visita intima com todos os participantes daquela série de crimes.
Fiquei à sós com eles no pátio em que eles tomavam sol, e iniciei um breve interrogatório, repetindo as mesmas perguntas à todos os 6 que lá estavam.
Descobri que todos tinham o mesmo pensamento que eu comecei a ter quando criança, e fui desenvolvendo ao longo de minha jornada. Eles justificaram os crimes cometidos, como forma de acabar com o terrível espetáculo de palhaços no meio de humanos. Eles buscavam meios de descobrir onde era a entrada para a festa.
Eu não era um criminoso, por isso evitei esse caminho, desde o começo, quando recebi essa proposta por um dos primeiros palhaços que me apareceu.
Ao sair da penitenciária, me dirigi a um hotel, paguei uma diária, peguei a chave do quarto 86 e fui acompanhado por um palhaço até o oitavo andar, o qual ficava o apartamento 86.
Amedrontado, entrei rapidamente em meu apartamento, percebendo que alguns hóspedes reparavam em mim. Talvez eu estivesse com a aparência afobada, já que um palhaço estava me seguindo.
Entrei de forma ligeira e logo tranquei a porta, como se esse ato fosse adiantar em algo, já que ao me virar, lá estava aquele ser capaz de causar calafrios em qualquer pessoa.
Aquele palhaço de pé junto ao frigobar, que me acompanhara desde a recepção do hotel, era ainda mais horripilante que os outros. Ele não usava uma maquiagem comum, mas sim toda em preto, assim como toda a sua roupa, e até o seu nariz. A única coisa que não mudou dos outros, foi o sorriso amarelo e com dentes afiados. Em poucos segundos, pude observá-lo sumindo em minha frente, igualmente o primeiro que me apareceu, dizendo apenas: “missão cumprida”.
Virei-me para a televisão, e liguei-a.
O noticiário me mostrava uma chocante matéria. A matéria era sobre um senhor que se vestiu de palhaço, entrou na penitenciária na qual estavam alojados os antigos criminosos, que assim também se vestiam, e executou-os.
Comecei a pensar em como aquele ser que me seguira, conseguiu se tornar visível aos olhos de todos, inclusive das câmeras de segurança, para cometer tal feito.
A campainha do quarto, nesse momento, começou a soar, sem fazer pausa em seu som estridente.
Levantei-me da cama, e abri a porta. Para minha surpresa, era a polícia.
Senti uma pequena agulhada na perna, e apaguei.
Sem ter a noção de tempo nem lugar, acordei. Estava em uma sala fechada, com espumas na parede e vestindo uma camisa de força. Era um manicômio.
O médico abriu a porta, e pediu para que eu saísse.
Eu apenas obedeci, sem nada contestar e nada entender.
Bom, leitor. Até aqui, mostrei o meu ponto de vista. Para mim, esse é um resumo de minha infeliz vida, mas o que foi diagnosticado, é que eu sofro de coulrofobia, o medo de palhaços, que fundido com a minha psicopatia, eu cometi aqueles homicídios, sem me dar conta.
Mas se eu for retomar o meu ponto de vista, sei, assim como tu sabes, quem realmente cometeu aquele ato.
narduci, renato ferreira
O que muitos vêem em pessoas com os rostos pintados, usando roupas coloridas e largas e com um nariz vermelho. Eu vejo medo, pavor, terror.
Desde quando tenho minha primeira memória, tenho a imagem de palhaço, como um ser de certo, maligno. Eu posso até estar errado, mas o palhaço, de certa forma, é um ser místico, ao menos para quem o vê como eu.
Desde que aprendi a ler, comecei uma busca de forma insaciada, pelo tal ser místico.
Quando ainda era um pequeno garoto, comecei a associar alguns crimes que andavam acontecendo de modo costumeiro em minha pequena cidade no interior de um pequeno estado, que se situava no interior de um grande país, conhecido como Brasil.
Na época, surgiram algumas lendas de os criminosos cometerem seus atos ilícitos trajando roupas de palhaços, assim como as maquiagens por eles utilizadas.
Algo em isso começava a me fascinar pelo mundo do crime e me apavorar com os palhaços; não me fascinava pelo ato de cometer um crime, mas sim de participar desse ato; não como um criminoso, mas talvez, como um combatente dele.
Minha família, naquela época, era muito humilde. Não tínhamos uma boa qualidade de vida, aliás, nesse país que eu vos cito, e naquela época, não eram muitas as famílias que eram bem-sucedidas.
Como eu era pequeno, e tinha uma imaginação fértil, passava o dia todo pensando e planejando acabar com a ação dos criminosos.
Ficava o dia todo com a imagem de um palhaço em minha mente.
Eram poucos os meios de comunicações aquela época,e como não havíamos como adquirir esses meios, eu recebia o conhecimento desses atos costumeiros através do povo, logo, eu nunca tive um contato visual com um palhaço criminoso, então associava aquele ser místico que participava da decoração do berço de meu irmão menor a um assassino.
Era rotineiro eu sair da escola na qual eu estudava devido a bolsa que meu pai havia me concebido, graças ao seu novo emprego, tudo mostrava que nossa vida estava prestes a mudar. Mas como comecei a citar meu ato costumeiro, eu doucontinuidade à esse ponto.
A minha rotina era acordar, ir à escola, lá eu ganhava minha primeira refeição do dia, e ia assistir aula, terminadas as aulas, eu ia descobrir algo sobre os tais palhaços.
Geralmente eu freqüentava um galpão abandonado e me repousava lá, lendo sobre psicologia, criminalidade e até sobre as diversas religiões, a fim de encontrar algo aceitável pela minha fértil imaginação;
Não citei ainda à vocês leitores, mas para mim, os palhaços eram o que vocês conhecem como espírito. Para mim, uma pessoa nasce, vive, cumpre sua missão, morre corporalmente e vão para um cenário belo, a fim de dar todas as risadas que deixaram de dar ao longo de sua vida. Minha família sempre sofreu muito pelo fato de não sermos bem-sucedidos, e todos os membros dela trabalhavam até o exausto noturno, acho que por esse motivo eu imaginava a vida após a morte assim, um cenário alegre.
Como as pessoas que acreditam em espíritos, de um modo geral, sabem que existem espíritos bons, e espíritos maus. Alguns que ficam sobre nós, e alguns que se vão para ser reencarnados.
Para concluir meu pensamento de “vida”, lhes digo, que durante toda a minha, segui essa “religião” por mim criada. Eu acreditava que após a morte corporal, algumas almas iriam para esse cenário alegre que citei, outras não conseguiam chegar à esse lugar. Eu imaginava esse tal cenário, como uma festa à fantasia, na qual, em regra, todos eram amigos. As almas, ou os palhaços, como preferirem, que não conseguiam chegar à essa festa, ficavam entre nós, lutando para encontrar a entrada.
Muitos acabavam se zangando, e se tornando maléficos, como se quisessem apenas matar para ver se as novas almas que trajavam roupas de palhaços soubessem o caminho, e os ajudassem.
Como passei boa parte de minha vida procurando entender essa lógica, nem preciso citar quem eles começaram a “caçar”. Pois bem, caros leitores, foi a mim.
Estranhamente, eu não precisei perecer, para que eu pudesse começar entrar em contato com eles. E não só entrar em contato, mas também vê-los e toca-los, me tornando alvo fácil para que eu fosse vítima deles com maior facilidade.
Todos os lugares que eu ia, tinha um me seguindo, não sempre o mesmo, eram diversos, e às vezes, para aumentar o cenário horrendo, os diversos ao mesmo tempo.
Alguns deles segurando balões, alguns grandes, alguns pequenos, alguns magros, algumas.
A primeira visão que tive, foi tentando estabelecer contato, por simples hobbie. Foi horripilante, quando ele se fez visível em minha frente. Lembro até hoje daqueles dentes amarelos e afiados; aquela pele pálida e fria como um cubo de gelo; aquela expressão dura de ódio, misturada com um meio sorriso, talvez irônico, mas era um sorriso.
Se eu tivesse problemas cardíacos, eu poderia já ter me misturado a eles.
Não trocamos palavras alguma, ele apenas se fez visível por um momento, e sumiu, indo sei lá para onde, ou continuando ali, mas de modo que eu não pudesse o enxergar.
A imagem de uma bola redonda e vermelha que ficava à altura de minha testa, mas que fazia parte de seu nariz, ficou em minha mente, enquanto eu, inerte, retomava a consciência.
Os dias foram se passando, assim como os meses, chegando por fim, os anos, e durante essa transição de tempo, as visitas foram ficando cada vez mais freqüentes, mas mesmo com a freqüência e o costume de presenciar aquelas fantasias horrendas, o pavor não passava. Cada vez que eu presenciava a aparição de um deles, sentia meu corço arrepiando, do peito do pé à cabeça.
Não só os via, mas também conversava com eles, alguns inocentes querendo chegar à festa; alguns ameaçadores; alguns com a aparência de um, mas eram de outro tipo.
O que mais me intrigava nisso tudo, é que a minha mente infantil e fértil, estava certa sobre o decorrer da vida.
Eu não era uma pessoa igual às outras, isso já estava claro para mim, mas eu era também sensitivo a eles. Não sei se pelo fato de ser conhecedor da verdade, ou se eu já carregava isso em minha alma pintada.
Ficava refletindo, em horas de repouso, se eu acabaria que nem eles, sem ter um lugar para ir, matando pessoas à procura de ajuda.
Eu estava me tornando mais forte contra eles, eu queria que aquilo acabasse. Eu queria que eles encontrassem logo o que procuravam, e deixasse as pessoas inocentes em paz, para que elas seguissem suas vidas, até a morte, e assim, dar continuidade a esse interminável ciclo.
Eu já tinha alguns conhecimentos adquiridos.
Sabia que aquelas almas poderiam ser extintas de nosso meio. Eu tinha o conhecimento, na teoria, de como. Eles também sabiam que eu era a pessoa apta para ajudá-los.
Eles começaram fazer da minha vida um inferno, se é que existe um diferente desse mundo em que vivemos.
Nunca levei ao conhecimento de meus pais e de ninguém, sobre essa minha religião, mas os palhaços faziam de tudo para que eu contasse para todos. Eles gostavam desse tipo de jogo. Faziam isso para obter a minha ajuda, mas na verdade, se eu ajudasse-os, acabaria ganhando uma entrada antecipada para a tal festa.
Eles não tinham hora para atormentar meu sossego. Apareciam casualmente durante o jantar, enquanto estavam todos postos à mesa, geralmente um deles se sentava ao meu lado, era horripilante cear com um “monstro” ao seu lado, lhe dizendo coisas horríveis, e tu não poder nem olhar, para que ninguém percebesse; apareciam durante meus banhos, ou enquanto eu estava me barbeando no espelho do banheiro, algumas vezes, um se arriscava em fazer a minha barba enquanto me fazia ameaças e me pedia ajuda; sentavam do meu lado no banco do carro; ou ainda, deitava-se em minha cama, quando eu estava com minha namorada.
Por algum motivo, por até psicopatia, eu penso sempre no final antes, e depois reconstruo a história, deixando o começo sendo a ultima parte, talvez até sem importância.
Sempre pensei na ultima parte, como o encontro de palhaços, e extraindo-os da população. Mas nunca pensei no começo, em quando eu ainda era pequeno, em quando eu comecei a estudar sobre esses seres enigmáticos. Tudo foi influência de uma série de atos criminosos, nos quais os participantes se vestiam de palhaços.
Resolvi, dessa vez, esquecer o fim, e me focalizar no começo.
Os palhaços eram obstáculos em tudo quanto é tipo de pesquisa que eu iniciava. Se eu fosse usar o computador, lá estava um para cortar o cabo de energia. Se eu fosse à biblioteca, lá estava um para rasgar os jornais antigos os quais usei de base.
Foi então que decidi seguir o destino. Saí de casa com a desculpa de estudar fora. Em essas alturas, minha família já tinha construído um nome familiar importante, que duraria por gerações. Finalmente todo o trabalho, estava gerando algum retorno. Felizes eram eles, que tinham uma vida normal, que poderiam gozar do fruto de seus trabalhos. Mas sabiam o que lhe aguardavam ao outro lado disso tudo.
Buscando por registros policiais antigos, acabei em uma penitenciária, para visitar alguns dos criminosos que se vestiam de palhaços. Alguns já haviam morrido, e se tornado palhaços de verdade.
O que todos tinham em comum, era o fato de temerem palhaços, mas mesmo assim, trajar-se como eles.
Concedendo ao carcereiro uma boa quantia em dinheiro, consegui que eu tivesse uma visita intima com todos os participantes daquela série de crimes.
Fiquei à sós com eles no pátio em que eles tomavam sol, e iniciei um breve interrogatório, repetindo as mesmas perguntas à todos os 6 que lá estavam.
Descobri que todos tinham o mesmo pensamento que eu comecei a ter quando criança, e fui desenvolvendo ao longo de minha jornada. Eles justificaram os crimes cometidos, como forma de acabar com o terrível espetáculo de palhaços no meio de humanos. Eles buscavam meios de descobrir onde era a entrada para a festa.
Eu não era um criminoso, por isso evitei esse caminho, desde o começo, quando recebi essa proposta por um dos primeiros palhaços que me apareceu.
Ao sair da penitenciária, me dirigi a um hotel, paguei uma diária, peguei a chave do quarto 86 e fui acompanhado por um palhaço até o oitavo andar, o qual ficava o apartamento 86.
Amedrontado, entrei rapidamente em meu apartamento, percebendo que alguns hóspedes reparavam em mim. Talvez eu estivesse com a aparência afobada, já que um palhaço estava me seguindo.
Entrei de forma ligeira e logo tranquei a porta, como se esse ato fosse adiantar em algo, já que ao me virar, lá estava aquele ser capaz de causar calafrios em qualquer pessoa.
Aquele palhaço de pé junto ao frigobar, que me acompanhara desde a recepção do hotel, era ainda mais horripilante que os outros. Ele não usava uma maquiagem comum, mas sim toda em preto, assim como toda a sua roupa, e até o seu nariz. A única coisa que não mudou dos outros, foi o sorriso amarelo e com dentes afiados. Em poucos segundos, pude observá-lo sumindo em minha frente, igualmente o primeiro que me apareceu, dizendo apenas: “missão cumprida”.
Virei-me para a televisão, e liguei-a.
O noticiário me mostrava uma chocante matéria. A matéria era sobre um senhor que se vestiu de palhaço, entrou na penitenciária na qual estavam alojados os antigos criminosos, que assim também se vestiam, e executou-os.
Comecei a pensar em como aquele ser que me seguira, conseguiu se tornar visível aos olhos de todos, inclusive das câmeras de segurança, para cometer tal feito.
A campainha do quarto, nesse momento, começou a soar, sem fazer pausa em seu som estridente.
Levantei-me da cama, e abri a porta. Para minha surpresa, era a polícia.
Senti uma pequena agulhada na perna, e apaguei.
Sem ter a noção de tempo nem lugar, acordei. Estava em uma sala fechada, com espumas na parede e vestindo uma camisa de força. Era um manicômio.
O médico abriu a porta, e pediu para que eu saísse.
Eu apenas obedeci, sem nada contestar e nada entender.
Bom, leitor. Até aqui, mostrei o meu ponto de vista. Para mim, esse é um resumo de minha infeliz vida, mas o que foi diagnosticado, é que eu sofro de coulrofobia, o medo de palhaços, que fundido com a minha psicopatia, eu cometi aqueles homicídios, sem me dar conta.
Mas se eu for retomar o meu ponto de vista, sei, assim como tu sabes, quem realmente cometeu aquele ato.
narduci, renato ferreira
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Medo
Fobia, tem gente que prefere tratar assim esse assunto de "medo". Talvez não seja só um medo bobo que tenho, mas sim certo pavor, de certas coisas que são ridicularizadas por pessoas, muitas delas até são incrédulas, quanto a sua real existência, mas só quem já passou pelas mesmas experiências que eu, sabem do que estou falando.
Independente de você acreditar em mim, ou não, estou aqui para relatar-te acontecimentos que eu vivenciei.
Acho que todos nós temos lembranças de certos pontos de nossa infância. Acontecimentos que jamais aquelas pessoas para quem contamos os tais incríveis acontecimentos por nós passados se lembrem, por mais força que façam. Acontecimentos que somente nós mesmos nos lembramos.
Bom, como não sigo certa cronologia de minha vida, nem ao menos lembro a ordem com que os fatores foram acontecendo, então lhes relatarei de acordo com o que condiz minha velha e falha memória.
Naquela época, era apenas garoto. Não sei lhe dizer com que idade estava, mas certamente eu freqüentava o primário, e como em toda escola tem divisões de grupos que os próprios alunos separam, na minha não poderia ser diferente. Eu nunca tive problemas com socialização, se é que posso utilizar essa palavra, me tratando de que estava ainda no primário, mas também não posso dizer que eu era o pop da escola. Tinha grupos maiores, e menores do que o meu. E amigos de verdade no grupo, lembro que éramos quatro. Eu, o Lucas, o Matheus e a Michele. Por mais que outras pessoas ficavam conosco, sempre acabavam se afastando, exceto nós, que éramos realmente ligados pela amizade. Em tese, não havia motivo nenhum que faria com que nos separasse, talvez, hoje, já se passado mais de 40 anos, continuássemos sendo amigos, se não fosse pelos tais acontecidos que comecei citar acima, e antes que eu acabe entrando em algum outro assunto, começarei a dizer o porquê não estamos juntos hoje.
O primeiro acontecido foi em um dia comum, quando, por um motivo fútil e infantil, resolvemos atormentar aquilo que estava em repouso eterno, se é que me faço claro.
Brincadeiras de evocação de espíritos eram normais entre pessoas de nossa idade. Acho que mexer com o perigo era motivo de grande excitação e medo. Eu sempre gostei desse tipo de coisa, mesmo sendo cético quanto ao assunto, já meus amigos, para ser mais específico, os três que mencionei acima, mostravam certo interesse pela ‘brincadeira’, e não só isso, mas eles também acreditavam em tais fatos.
Comunicações era regularmente feita através de objetos, como copos ou compassos sobre uma tábua ouija. O primeiro espectro que conseguimos contato pediu para que fossemos até uma velha mansão em um local afastado da cidade, a fim de que o alimentássemos, e para que não parássemos de jogar até que ele nos autorizasse. Eu como incrédulo achando que aquilo tudo era uma farsa, fui o primeiro a aceitar. Meus amigos até que tentaram não se expor a tal aventura, mas acabaram seduzidos pelas minhas opiniões.
A mansão de qual o espectro falara, era uma linda e enorme casa com aparência antiga, mas que fora reformada para permanecer bela.
Antes de ir lá com os meus amigos, resolvi conhecer um pouco da história da casa, pois toda mansão antiga tinha uma fantástica história para ser ouvida.
Perguntei aos meus avós sobre a casa, eis que me revelaram uma lenda, a qual dizia que os últimos moradores que lá habitavam haviam perecido. As filhas haviam sido mortas pelo pai, que chegara embriagado em casa, e logo após teria cometido suicídio, e a mãe teria ficado insana ao se deparar com tamanha tragédia.
Fiquei fascinado pela lenda contada por eles, pois adorava casos que pudesse haver detetive; inclusive, essa era minha pretensão para quando crescesse, ser detetive. Consegui o que eu queria, sou um detetive. Já vi tantos casos em minha vida, e até os que aparentavam ser os mais sobrenaturais, têm uma explicação lógica, mas não generalizando, digamos que quase tudo tem uma explicação lógica.
Lembro que certa vez investiguei um caso, no qual o meliante era um investigador da polícia civil de uma cidadezinha no interior, o sujeito era realmente psicótico. Ele fingira ser vidente para executar um amigo que julgava ter o traído. Bom, mas isso não vem ao caso.
Como estava falando sobre a mansão, contei aos meus amigos sobre a tal lenda, e acabei despertando mais entusiasmo neles.
O dia e a hora combinada pelo espectro não demorou a chegar, ao menos para mim, que não estava ansioso para tal fato.
Unimos-nos, Eu, a Michele (ah, doce Michele), o Lucas e o Matheus e entramos em a casa.
A casa era linda por dentro, e ninguém morava lá, talvez a tal lenda fosse verdade, e os familiares nunca tivessem procurado pelos direitos de ficar com a residência e a mobília de a casa.
Cada móvel que repousava há um bom tempo em a casa, estava em perfeita sintonia com o ambiente, como se fosse um quebra-cabeça, no qual os móveis eram as peças que estavam a faltar apenas com a aparência do salão.
O chão de taco e a escada de madeira eram praticamente perfeitos para o horror de meus amigos, e confesso, estava começando a me sentir em um filme de terror.
No piso térreo pós a entrada pela sala, havia em o lado um corredor que levava até uma sala de jantar, de o outro lado, uma cozinha, e em a saída de a cozinha uma varanda.
Depois de visitado o piso térreo inteiro e notado alguns detalhes intrigantes, como detalhes que eram exatamente iguais à lenda ouvida em a semana anterior. Um exemplo marcante de os detalhes era o cinzeiro sujo em a varanda, e pelo que dava para perceber, não havia muito tempo que tinham apagado o ultimo cigarro em aquele cinzeiro.
Mas não era esse o foco principal de nossa visita, então preferi não comentar nada com meus amigos e fomos ao piso superior, no qual havia três quartos normais de grande metragem, e um quarto de brinquedos com uma boneca à frente, detalhe também contado em a lenda. Mas não foi o que mais me chamou a atenção. O que mais me manteve ligado, e colocou em minha mente a lenda como fato verídico, foi o odor de grãos de café queimados que o quarto fechado possuía. Meu pai, que fora escrivão de polícia quando vivo, me contou que para se tirar o cheiro de podridão de um local queima-se café, e os policiais faziam isso para poderem trabalhar em o local.
Depois de visitarmos praticamente todos os cômodos da mansão, voltamos à sala de centro, estendemos a tábua ouija para evocar novamente o espectro e estabelecemos contato com ele, o qual pediu para apenas a linda Michele ir à varanda.
Continuamos com o jogo pré-estabelecido pelo espectro até a intromissão de a Michele, que com tom grosso e arrogante, pronunciou palavras em um idioma desconhecido por nós, mas fez-se entender que o recado fazia referência ao Lucas.
Michele caíra desmaiada.
Ficamos totalmente atônitos permanecendo imóveis por cerca de trinta segundos, quando a Michele retomou a consciência.
Com expressão de espanto, todos nós esperávamos que ela pronunciasse algo, e foi exatamente isso que ela fez.
Contou que adormecera a pouco ao lado de a tábua, tivera um sonho, e descrevia exatamente o que tinha acontecido em aquele local.
Muita aventura em um único dia, não achas? Sim, eu também acho.
Por aquele dia tinha acabado. Levantamo-nos, pegamos nosso objeto enigmático, e saímos da mansão.
Nenhum de nós teve a coragem de pronunciar fora da mansão o que acontecera lá dentro. Seria nosso segredo.
Lembro que outra vez em que tivemos a coragem de continuar com o jogo estabelecido pelo espectro, foi decorrente de alguns fatores que mostravam ser a “obra-de-arte” de nosso espírito particular. Não via outra explicação lógica para tais acontecimentos, aliás, o fato de estarmos nos comunicando com o outro lado da vida, se é que podemos chamar esse outro lado de vida, já não era uma explicação lógica. Somente após voltarmos a jogar pudemos cessar os fatores que comecei a citar acima. Um desses fatores foi a morte de meu avô. Assim como a morte do avô da Michele, e a do avô do Lucas e do Matheus; isso em torno de um mês, ou pouco mais.
A partir de o dia em que voltamos à velha mansão, pois tínhamos decididos que só iríamos estabelecer contatos em aquele estabelecimento residencial, que por fora parecia tão amigável, mas que por dentro, além de o mau odor que a casa estava recebendo com o passar dos dias, aliás, não faço a menor idéia de o porquê. Era ainda mais horripilante seu cenário. Decidimos também, que não abandonaríamos os jogos, agora semanais, toda madrugada de sexta, às três horas, que foi esse horário estabelecido pelo espírito.
Éramos todos crianças, nossos pais nunca iriam autorizar nossa saída de casa em aquele horário, muito menos se contássemos a verdade. Às vezes acabava sendo difícil fugir de casa sem a percepção deles, e muita dessas vezes, em que não conseguíamos estar os quatro presentes, o espírito não perdoava a falta de qualquer um de nós. Deve ter sido esse o motivo do óbito da doce Michele. É com lágrimas dolorosas em meus olhos que tenho a certeza de que fui o culpado pela parada cardíaca da tão saudável criança que ainda hoje amo. Por um certo motivo, eu nem me lembro o qual, mas não pude comparecer ao jogo, que a essa altura, chamávamos de reuniões.
O espectro, cada vez mais sobre nosso controle, impedia que parássemos de jogar, mesmo já se passado algum tempo que tínhamos o iniciado, para ser mais exato, torno de quatro ou cinco anos.
Acho que não citei o que fazíamos durante as reuniões. Bem, as reuniões eram iniciadas por uma oração em latim, que não fazíamos a menor do que significava, mas era de vontade do espírito; seguíamos o evocando, e conversando com ele, de forma natural, ele nos contava como tinha sido sua vida detalhadamente à medida que fazíamos alguns favores a ele, ao menos ele chamava assim, o que julgávamos missões.
Leitor, tu sabes o que é subtrair a vida de uma pessoa? E subtrair a vida de uma pessoa enquanto se é criança ou adolescente? E subtrair a vida de várias pessoas, apenas para ter sangue fresco e continuar um suposto jogo? Eu passei por isso. Não era tão difícil de fazer, já que o espírito estava sempre ao meu lado.
Desistir e morrer? Isso já estava fora de cogitação há algum tempo, não somente eu morreria, mas todos que estabeleciam algum tipo de laço afetivo comigo e com os outros dois que ainda me acompanhavam.
Um fator que ainda não mencionei, foi que meus aniversários, além de os presentes costumeiros que recebia de minha família, era contemplado por uma dádiva que o espectro me concedia; acho que dádiva era a palavra que mais se cabia diante a situação que vivenciava.
As dádivas eram algo que para pessoas “normais” eram coisas abstratas. Eram: mais coragem, mais força, até mesmo mais maldade. Eu não era mais a bela criança da qual dei início à história. Além de agora já não ser mais criança, e já não possuir as mesmas feições devido a processos naturais de crescimento e desenvolvimento do ser – humano; já não pensava da mesma forma que antes, não por causa de desenvolvimento mental, mas pelo que o espectro me passava. Estava criando um psicopata em mim, algo que ele não fora em vida, mas quisera ter sido.
O que mais me amadurecera nessa história, foi a morte de meu irmão. Meu irmão era a única pessoa fora do grupo que sabia o que acontecia em as minhas madrugadas.
Meu irmão, fora a pessoa que me ouvia, me ajudava, estudava sobre o assunto para conseguir me ajudar. Era meu apoio, fora o que me manteve vivo até aqui. Fiquei sabendo o real motivo da morte de meu irmão aproximadamente três anos depois de seu falecimento, quando o espírito me revelou que o matara para que eu pudesse ser mais independente.
A cada dia que passava, eu sentia mais ódio daquele maldito espírito. Maldita hora que fomos o evocar. Sabe-se lá o que aconteceria em minha vida se nunca tivéssemos feito isso. Talvez eu estivesse junto de a doce Michele agora. Mas assim como o ódio que eu sentia pelo espírito, uma parte de mim começava a amá-lo, eu começava a me identificar com ele.
Em essas alturas eu já não era mais cético, acreditava em um poder bom e um poder mal do outro lado da vida. Acreditava em Deus e em o Diabo.
Já tinha dezoito anos quando resolvi trabalhar e sair de casa, seria mais seguro para mim e para minha família.
Não acho que consegues imaginar aonde fui morar quando saí de casa. Talvez já tenhas uma idéia pela ênfase que dei a esse ponto. Pois bem, procurei a imobiliária responsável pela placa escrito “for sale” que havia na frente da velha mansão que eram executados os rituais.
Os corretores me informavam que a casa estava apenas à venda, e que não seria objeto de locação; me disseram também que eu fui a primeira pessoa interessada em aquela mansão desde que fora abandonada, e que nem os familiares dos antigos moradores estavam mais interessados nela, nem mesmo os corretores demonstravam interesse em vende-la. Eles me explicavam algo sobre a usucapião, se eu morasse lá e ninguém demonstrasse interesse, eu poderia me tornar proprietário da residência.
Resolvi arriscar, se o espectro estivesse realmente ao meu lado, faria com que eu continuasse lá.
Penso que não cheguei a mencionar, mas eu estava sozinho no jogo. Matei os outros dois participantes, o espírito dissera que tinha interesse apenas em mim.
Fui elogiado pelo espírito, pela sábia decisão de ir morar naquela casa.
Com a convivência e a intimidade que tínhamos, ele começava a me revelar alguns mistérios do universo. Contava-me sobre a ajuda que os egípcios receberam de os extraterrestres, para as construções de as pirâmides, contava-me sobre os pactos que os famosos faziam com o Diabo; contava-me sobre as mensagens subliminares; e leitor, eu vos digo, tu não fazes idéia de o poder que atua entre nós. Tanto os benéficos, quanto os maléficos.
Acordei assustado, a ultima noite antes de escrever essa história a vocês. Como aconteciam todas as noites, os remédios indicados pelo novo psiquiatra não haviam provocado efeitos.
Sofro de oneirofobia. Esse é o medo que comecei a citar ao início, e acabei entrando em outro assunto, é o medo de sonhar. E tudo o que descrevi aqui, foi uma forma de desabafo para dividir contigo os sonhos que tenho.
Fobia, tem gente que prefere tratar assim esse assunto de "medo". Talvez não seja só um medo bobo que tenho, mas sim certo pavor, de certas coisas que são ridicularizadas por pessoas, muitas delas até são incrédulas, quanto a sua real existência, mas só quem já passou pelas mesmas experiências que eu, sabem do que estou falando.
narduci, renato ferreira
Independente de você acreditar em mim, ou não, estou aqui para relatar-te acontecimentos que eu vivenciei.
Acho que todos nós temos lembranças de certos pontos de nossa infância. Acontecimentos que jamais aquelas pessoas para quem contamos os tais incríveis acontecimentos por nós passados se lembrem, por mais força que façam. Acontecimentos que somente nós mesmos nos lembramos.
Bom, como não sigo certa cronologia de minha vida, nem ao menos lembro a ordem com que os fatores foram acontecendo, então lhes relatarei de acordo com o que condiz minha velha e falha memória.
Naquela época, era apenas garoto. Não sei lhe dizer com que idade estava, mas certamente eu freqüentava o primário, e como em toda escola tem divisões de grupos que os próprios alunos separam, na minha não poderia ser diferente. Eu nunca tive problemas com socialização, se é que posso utilizar essa palavra, me tratando de que estava ainda no primário, mas também não posso dizer que eu era o pop da escola. Tinha grupos maiores, e menores do que o meu. E amigos de verdade no grupo, lembro que éramos quatro. Eu, o Lucas, o Matheus e a Michele. Por mais que outras pessoas ficavam conosco, sempre acabavam se afastando, exceto nós, que éramos realmente ligados pela amizade. Em tese, não havia motivo nenhum que faria com que nos separasse, talvez, hoje, já se passado mais de 40 anos, continuássemos sendo amigos, se não fosse pelos tais acontecidos que comecei citar acima, e antes que eu acabe entrando em algum outro assunto, começarei a dizer o porquê não estamos juntos hoje.
O primeiro acontecido foi em um dia comum, quando, por um motivo fútil e infantil, resolvemos atormentar aquilo que estava em repouso eterno, se é que me faço claro.
Brincadeiras de evocação de espíritos eram normais entre pessoas de nossa idade. Acho que mexer com o perigo era motivo de grande excitação e medo. Eu sempre gostei desse tipo de coisa, mesmo sendo cético quanto ao assunto, já meus amigos, para ser mais específico, os três que mencionei acima, mostravam certo interesse pela ‘brincadeira’, e não só isso, mas eles também acreditavam em tais fatos.
Comunicações era regularmente feita através de objetos, como copos ou compassos sobre uma tábua ouija. O primeiro espectro que conseguimos contato pediu para que fossemos até uma velha mansão em um local afastado da cidade, a fim de que o alimentássemos, e para que não parássemos de jogar até que ele nos autorizasse. Eu como incrédulo achando que aquilo tudo era uma farsa, fui o primeiro a aceitar. Meus amigos até que tentaram não se expor a tal aventura, mas acabaram seduzidos pelas minhas opiniões.
A mansão de qual o espectro falara, era uma linda e enorme casa com aparência antiga, mas que fora reformada para permanecer bela.
Antes de ir lá com os meus amigos, resolvi conhecer um pouco da história da casa, pois toda mansão antiga tinha uma fantástica história para ser ouvida.
Perguntei aos meus avós sobre a casa, eis que me revelaram uma lenda, a qual dizia que os últimos moradores que lá habitavam haviam perecido. As filhas haviam sido mortas pelo pai, que chegara embriagado em casa, e logo após teria cometido suicídio, e a mãe teria ficado insana ao se deparar com tamanha tragédia.
Fiquei fascinado pela lenda contada por eles, pois adorava casos que pudesse haver detetive; inclusive, essa era minha pretensão para quando crescesse, ser detetive. Consegui o que eu queria, sou um detetive. Já vi tantos casos em minha vida, e até os que aparentavam ser os mais sobrenaturais, têm uma explicação lógica, mas não generalizando, digamos que quase tudo tem uma explicação lógica.
Lembro que certa vez investiguei um caso, no qual o meliante era um investigador da polícia civil de uma cidadezinha no interior, o sujeito era realmente psicótico. Ele fingira ser vidente para executar um amigo que julgava ter o traído. Bom, mas isso não vem ao caso.
Como estava falando sobre a mansão, contei aos meus amigos sobre a tal lenda, e acabei despertando mais entusiasmo neles.
O dia e a hora combinada pelo espectro não demorou a chegar, ao menos para mim, que não estava ansioso para tal fato.
Unimos-nos, Eu, a Michele (ah, doce Michele), o Lucas e o Matheus e entramos em a casa.
A casa era linda por dentro, e ninguém morava lá, talvez a tal lenda fosse verdade, e os familiares nunca tivessem procurado pelos direitos de ficar com a residência e a mobília de a casa.
Cada móvel que repousava há um bom tempo em a casa, estava em perfeita sintonia com o ambiente, como se fosse um quebra-cabeça, no qual os móveis eram as peças que estavam a faltar apenas com a aparência do salão.
O chão de taco e a escada de madeira eram praticamente perfeitos para o horror de meus amigos, e confesso, estava começando a me sentir em um filme de terror.
No piso térreo pós a entrada pela sala, havia em o lado um corredor que levava até uma sala de jantar, de o outro lado, uma cozinha, e em a saída de a cozinha uma varanda.
Depois de visitado o piso térreo inteiro e notado alguns detalhes intrigantes, como detalhes que eram exatamente iguais à lenda ouvida em a semana anterior. Um exemplo marcante de os detalhes era o cinzeiro sujo em a varanda, e pelo que dava para perceber, não havia muito tempo que tinham apagado o ultimo cigarro em aquele cinzeiro.
Mas não era esse o foco principal de nossa visita, então preferi não comentar nada com meus amigos e fomos ao piso superior, no qual havia três quartos normais de grande metragem, e um quarto de brinquedos com uma boneca à frente, detalhe também contado em a lenda. Mas não foi o que mais me chamou a atenção. O que mais me manteve ligado, e colocou em minha mente a lenda como fato verídico, foi o odor de grãos de café queimados que o quarto fechado possuía. Meu pai, que fora escrivão de polícia quando vivo, me contou que para se tirar o cheiro de podridão de um local queima-se café, e os policiais faziam isso para poderem trabalhar em o local.
Depois de visitarmos praticamente todos os cômodos da mansão, voltamos à sala de centro, estendemos a tábua ouija para evocar novamente o espectro e estabelecemos contato com ele, o qual pediu para apenas a linda Michele ir à varanda.
Continuamos com o jogo pré-estabelecido pelo espectro até a intromissão de a Michele, que com tom grosso e arrogante, pronunciou palavras em um idioma desconhecido por nós, mas fez-se entender que o recado fazia referência ao Lucas.
Michele caíra desmaiada.
Ficamos totalmente atônitos permanecendo imóveis por cerca de trinta segundos, quando a Michele retomou a consciência.
Com expressão de espanto, todos nós esperávamos que ela pronunciasse algo, e foi exatamente isso que ela fez.
Contou que adormecera a pouco ao lado de a tábua, tivera um sonho, e descrevia exatamente o que tinha acontecido em aquele local.
Muita aventura em um único dia, não achas? Sim, eu também acho.
Por aquele dia tinha acabado. Levantamo-nos, pegamos nosso objeto enigmático, e saímos da mansão.
Nenhum de nós teve a coragem de pronunciar fora da mansão o que acontecera lá dentro. Seria nosso segredo.
Lembro que outra vez em que tivemos a coragem de continuar com o jogo estabelecido pelo espectro, foi decorrente de alguns fatores que mostravam ser a “obra-de-arte” de nosso espírito particular. Não via outra explicação lógica para tais acontecimentos, aliás, o fato de estarmos nos comunicando com o outro lado da vida, se é que podemos chamar esse outro lado de vida, já não era uma explicação lógica. Somente após voltarmos a jogar pudemos cessar os fatores que comecei a citar acima. Um desses fatores foi a morte de meu avô. Assim como a morte do avô da Michele, e a do avô do Lucas e do Matheus; isso em torno de um mês, ou pouco mais.
A partir de o dia em que voltamos à velha mansão, pois tínhamos decididos que só iríamos estabelecer contatos em aquele estabelecimento residencial, que por fora parecia tão amigável, mas que por dentro, além de o mau odor que a casa estava recebendo com o passar dos dias, aliás, não faço a menor idéia de o porquê. Era ainda mais horripilante seu cenário. Decidimos também, que não abandonaríamos os jogos, agora semanais, toda madrugada de sexta, às três horas, que foi esse horário estabelecido pelo espírito.
Éramos todos crianças, nossos pais nunca iriam autorizar nossa saída de casa em aquele horário, muito menos se contássemos a verdade. Às vezes acabava sendo difícil fugir de casa sem a percepção deles, e muita dessas vezes, em que não conseguíamos estar os quatro presentes, o espírito não perdoava a falta de qualquer um de nós. Deve ter sido esse o motivo do óbito da doce Michele. É com lágrimas dolorosas em meus olhos que tenho a certeza de que fui o culpado pela parada cardíaca da tão saudável criança que ainda hoje amo. Por um certo motivo, eu nem me lembro o qual, mas não pude comparecer ao jogo, que a essa altura, chamávamos de reuniões.
O espectro, cada vez mais sobre nosso controle, impedia que parássemos de jogar, mesmo já se passado algum tempo que tínhamos o iniciado, para ser mais exato, torno de quatro ou cinco anos.
Acho que não citei o que fazíamos durante as reuniões. Bem, as reuniões eram iniciadas por uma oração em latim, que não fazíamos a menor do que significava, mas era de vontade do espírito; seguíamos o evocando, e conversando com ele, de forma natural, ele nos contava como tinha sido sua vida detalhadamente à medida que fazíamos alguns favores a ele, ao menos ele chamava assim, o que julgávamos missões.
Leitor, tu sabes o que é subtrair a vida de uma pessoa? E subtrair a vida de uma pessoa enquanto se é criança ou adolescente? E subtrair a vida de várias pessoas, apenas para ter sangue fresco e continuar um suposto jogo? Eu passei por isso. Não era tão difícil de fazer, já que o espírito estava sempre ao meu lado.
Desistir e morrer? Isso já estava fora de cogitação há algum tempo, não somente eu morreria, mas todos que estabeleciam algum tipo de laço afetivo comigo e com os outros dois que ainda me acompanhavam.
Um fator que ainda não mencionei, foi que meus aniversários, além de os presentes costumeiros que recebia de minha família, era contemplado por uma dádiva que o espectro me concedia; acho que dádiva era a palavra que mais se cabia diante a situação que vivenciava.
As dádivas eram algo que para pessoas “normais” eram coisas abstratas. Eram: mais coragem, mais força, até mesmo mais maldade. Eu não era mais a bela criança da qual dei início à história. Além de agora já não ser mais criança, e já não possuir as mesmas feições devido a processos naturais de crescimento e desenvolvimento do ser – humano; já não pensava da mesma forma que antes, não por causa de desenvolvimento mental, mas pelo que o espectro me passava. Estava criando um psicopata em mim, algo que ele não fora em vida, mas quisera ter sido.
O que mais me amadurecera nessa história, foi a morte de meu irmão. Meu irmão era a única pessoa fora do grupo que sabia o que acontecia em as minhas madrugadas.
Meu irmão, fora a pessoa que me ouvia, me ajudava, estudava sobre o assunto para conseguir me ajudar. Era meu apoio, fora o que me manteve vivo até aqui. Fiquei sabendo o real motivo da morte de meu irmão aproximadamente três anos depois de seu falecimento, quando o espírito me revelou que o matara para que eu pudesse ser mais independente.
A cada dia que passava, eu sentia mais ódio daquele maldito espírito. Maldita hora que fomos o evocar. Sabe-se lá o que aconteceria em minha vida se nunca tivéssemos feito isso. Talvez eu estivesse junto de a doce Michele agora. Mas assim como o ódio que eu sentia pelo espírito, uma parte de mim começava a amá-lo, eu começava a me identificar com ele.
Em essas alturas eu já não era mais cético, acreditava em um poder bom e um poder mal do outro lado da vida. Acreditava em Deus e em o Diabo.
Já tinha dezoito anos quando resolvi trabalhar e sair de casa, seria mais seguro para mim e para minha família.
Não acho que consegues imaginar aonde fui morar quando saí de casa. Talvez já tenhas uma idéia pela ênfase que dei a esse ponto. Pois bem, procurei a imobiliária responsável pela placa escrito “for sale” que havia na frente da velha mansão que eram executados os rituais.
Os corretores me informavam que a casa estava apenas à venda, e que não seria objeto de locação; me disseram também que eu fui a primeira pessoa interessada em aquela mansão desde que fora abandonada, e que nem os familiares dos antigos moradores estavam mais interessados nela, nem mesmo os corretores demonstravam interesse em vende-la. Eles me explicavam algo sobre a usucapião, se eu morasse lá e ninguém demonstrasse interesse, eu poderia me tornar proprietário da residência.
Resolvi arriscar, se o espectro estivesse realmente ao meu lado, faria com que eu continuasse lá.
Penso que não cheguei a mencionar, mas eu estava sozinho no jogo. Matei os outros dois participantes, o espírito dissera que tinha interesse apenas em mim.
Fui elogiado pelo espírito, pela sábia decisão de ir morar naquela casa.
Com a convivência e a intimidade que tínhamos, ele começava a me revelar alguns mistérios do universo. Contava-me sobre a ajuda que os egípcios receberam de os extraterrestres, para as construções de as pirâmides, contava-me sobre os pactos que os famosos faziam com o Diabo; contava-me sobre as mensagens subliminares; e leitor, eu vos digo, tu não fazes idéia de o poder que atua entre nós. Tanto os benéficos, quanto os maléficos.
Acordei assustado, a ultima noite antes de escrever essa história a vocês. Como aconteciam todas as noites, os remédios indicados pelo novo psiquiatra não haviam provocado efeitos.
Sofro de oneirofobia. Esse é o medo que comecei a citar ao início, e acabei entrando em outro assunto, é o medo de sonhar. E tudo o que descrevi aqui, foi uma forma de desabafo para dividir contigo os sonhos que tenho.
Fobia, tem gente que prefere tratar assim esse assunto de "medo". Talvez não seja só um medo bobo que tenho, mas sim certo pavor, de certas coisas que são ridicularizadas por pessoas, muitas delas até são incrédulas, quanto a sua real existência, mas só quem já passou pelas mesmas experiências que eu, sabem do que estou falando.
narduci, renato ferreira
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
O vidente
A sala era pequena, abafada e totalmente desprovida de iluminação natural. Tinha apenas uma escrivaninha velha posta ao meio da sala, em seu encaixe ficava uma cadeira, sobre a escrivaninha repousava uma velha maquina de escrever com algumas folhas ao seu lado, e no teto havia uma lâmpada antiga, daquelas que se acendiam sem interruptor na parede.
Aquilo era tudo para o senhor Rafael Mendes, que era investigador de polícia, mas como sua cidade era pequena e pacata, e o serviço era pouco, ele permanecia na delegacia apenas quando estava de plantão, caso contrário, era naquela sala ao fundo de sua casa que ele gostava de passar as suas horas.
Costumava ficar 12 horas diárias escrevendo seus contos que nunca ninguém lera, não por falta de interesse dos companheiros de trabalho, mas porque ele nunca revelara o que ele gostava de escrever.
Sábado, 1 de novembro de 1997.
Era seu dia de ficar no plantão da delegacia, junto com o seu melhor amigo, o carcereiro Joaquim.
Sempre que ficavam juntos no plantão, a festa estava pronta para eles. Alugavam filmes e passavam a noite inteira assistindo.
Mas aquela noite havia começado diferente, o Rafael não tinha alugado filmes, chegou à delegacia apenas com uma pasta de couro, aparentemente cheia.
Quando todos já tinham se retirado, Rafael sentou-se relaxadamente na cadeira da sala do plantão colocando seus pés sobre a mesa de madeira que ficavam as ocorrências registradas no dia, colocou a pasta de couro preto sobre seu colo, a abriu, e retirou um punhado de folhas grampeadas, estendendo a mão e entregando as folhas ao Joaquim, que estava ao seu lado.
_ O que essas ocorrências fazem com você? – perguntou Joaquim.
_ Joaquim, eu preciso lhe contar um segredo! – disse Rafael, com a voz rouca, e quase inaudível.
_ Não vá me dizer que você roubou essas ocorrências porque é um psicopata, e procura inspiração para matar alguém. – Joaquim ria como um piadista, que de fato era.
_ O caso é sério, Joaquim. Não faça piadas, por favor!
Joaquim aquietou-se ouvindo o que o amigo tinha a lhe dizer.
_ Joaquim, você se lembra do caso do Cidão?
_ Claro que lembro! Coisa estranha, Causa mortis: asfixia. Sem hematomas, sem nenhuma lesão corporal, sem entorpecentes, ele simplesmente parou de respirar.
_ Pegue a terceira ocorrência, dessas que eu te passei!
_ É a ocorrência do Cidão!
_ Sim, é a ocorrência do Cidão; não percebe nada de estranho nessa ocorrência?
_ Como já disse, o motivo da morte do Cidão.
_ Não Joaquim, repare nas letras da ocorrência, na folha, não é a que usamos aqui no plantão.
_ Sim, a folha é pouco maior que a nossa, e ela foi datilografada a maquina.
_ E aparenta ser de mais ou menos quanto tempo, Joaquim?
_ Aparenta ter sido datilografada a um ano, mais ou menos.
_ Exato! E de quando é essa ocorrência?
_ Três semanas?
_ Sim, Três semanas. Joaquim, eu posso estar ficando louco, mas todas essas ocorrências eu registrei exatamente um ano antes de acontecer. É isso que eu fico fazendo em casa, registrando ocorrências que acontecerão um ano depois.
_ Rafael, o que exatamente você está querendo dizer? Que você é algum tipo de vidente?
_ Sim, Joaquim. É exatamente isso.
Joaquim sentou-se com expressão de assustado, não conseguia pronunciar uma palavra sequer.
Rafael fez o mesmo que o amigo, não sabia o que falar também.
Permaneceram por algum tempo um olhando para o outro, até o silencio ser cortado pelo Joaquim.
_ Rafael, porque escondestes tanto tempo esse seu ‘dom’? Poderíamos estar combatendo crimes, evitando acidentes, e essas coisas todas que acontecem diariamente. Diga Rafael, o que ira acontecer amanhã? Perguntava Joaquim com tom de entusiasmo.
_ Joaquim, acalme-se. Não lhe contei antes por causa de um sonho que eu tive quando comecei a ter essas premonições. Sonhei que estava em um lugar vazio, calmo e cheio de neblina, era como se fosse uma cidade abandonada, e nesse lugar tinha mais uma pessoa além de mim, não sei ao certo quem era, mas ele me disse que eu nunca poderia revelar isso a ninguém, e muito menos interferir nos acontecimentos, se eu ousasse infringir uma dessas ‘regras’, eu sofreria sérias conseqüências, e lógico, nunca quis saber que conseqüências eram essas.
Joaquim estava assustado com o que o amigo estava falando. Estaria ele dizendo a verdade?
_ Mas me diga Rafael, você não podia contar isso a ninguém, porque então está me contando? Quer descobrir quais são as conseqüências? Dizia Joaquim sem perder a oportunidade de fazer uma piada.
_ Joaquim, primeiramente, já pedi para que você pare com suas piadas; depois, eu estou te contando porque gosto muito de você, e não quero te perder.
Joaquim assustou-se com a resposta do amigo, mas nada disse para não o interromper.
_ Joaquim, você vai morrer daqui a dois dias, e eu estou disposto a fazer de tudo para evitar que isso aconteça, nunca fiz isso antes, então, não tenho experiência de se irá dar certo, mas tentaremos.
Joaquim estava tremulo naquele momento. Sim, o amigo estava dizendo a verdade, conhecia muito bem aquele sujeito, sabia o quão sério ele era.
_ Como irei morrer? Quis saber Joaquim
_ Você não irá morrer Joaquim, eu não permitirei isso.
_ Mas se caso aconteça, como será minha morte?
_ Vitima da violência. Você será seqüestrado, amarrado em um galpão abandonado, irão te pedir informações sobre seu passado, você se negará a fornecer, e então, receberá um tiro.
_ E como você fará pra me livrar dessa, Rafael?
_ Já pensei nisso Joaquim. Eu sei em qual galpão irão te levar. Ficarei lá, escondido, esperando te levarem. Quando você já estiver amarrado, eu atiro no seqüestrador, e te solto. Daí para frente, não sei o que fazer. Agora você, é só seguir seu dia normalmente, a morte lhe procurará.
Joaquim chegou em casa, estava triste, não tinha certeza da eficácia do plano do amigo. Não quis comer, então foi direto para cama, o relógio indicava 12:35. Sua mulher o perguntou se ele estava bem, ele respondeu meneando a cabeça de modo a afirmar. As únicas palavras por ele pronunciadas foram:
_ Estou cansado, preciso dormir.
Já passava das 19 horas quando Joaquim acordou, ainda estava muito assustado com o que o amigo dissera, e para piorar tinha tido um pesadelo sobre o assunto.
Joaquim levantou-se e dirigiu-se à cozinha a fim de preparar algo para comer, ele precisava se alimentar, já estava a algum tempo sem nada comer, e precisaria estar bem alimentado para enfrentar o que o dia seguinte lhe reservara.
Com sua filha e com sua mulher, ele tentava agir normalmente para não preocupa-las.
Joaquim sempre fora muito religioso, e enquanto sua família ficava posta à sala assistindo à programação aberta que passava, ele rezava cabisbaixo para ninguém perceber sua preocupação.
Se tudo ocorresse bem, ele deveria sua vida ao amigo que lhe salvara.
Mas não era hora de pensar em retribuições; sua vida estava em contagem regressiva.
Era mais de meia noite quando todos já tinham se deitado, ele, como já havia dormido a tarde inteira por causa do plantão que tivera na noite anterior, não estava com sono, então ficou um pouco mais na sala da residência, indo se deitar somente após as duas da manhã.
No dia seguinte poderia dormir até a hora desejada, pois era sua folga.
Domingo, 2 de novembro de 1997
Após Joaquim acordar, levantou-se e viu o lindo sol que já havia aparecido, ouvia atentamente o canto dos pássaros e observava as flores lindas, frutos de uma bela primavera. Pode perceber o quão frágil era a vida. Naquele momento, percebia a perfeição da natureza, e os quão ignorantes eram os homens.
Seu olhar triste revelava que ele estava de luto antes de seu próprio velório.
De alguma forma, sentia a morte se aproximar lentamente.
Sabia que aquele seria seu ultimo dia de vida.
Não sabia que hora ele pereceria no dia seguinte. O amigo Rafael preferiu não lhe revelar, para que deixasse o livre arbítrio agir.
Aquele não era um domingo comum. Ele não saíra com sua esposa e com sua filha para se divertir, mas deixou que elas saíssem sozinhas, ele queria ficar só para refletir sobre seus erros, ao longo de sua vida.
A noite não tardou ao chegar.
Com sua família de volta em casa, Joaquim beijou o rosto de sua filha, disse a ela que a amava, e não se contendo, derrubou algumas lágrimas, que passaram imperceptíveis aos olhos dela.
Deitou-se ao lado de sua esposa, e adormecera.
Segunda-feira, 3 de novembro de 1997.
Joaquim acordou com o som do despertador.
Não mais se preocupava consigo mesmo, mas sim com sua família, o que fariam dali pra frente? Joaquim nem imaginava como seria a vida das duas se ele morresse naquele dia.
Já estava com a roupa que iria trabalhar, já tinha tomado seu café matutino, estava a caminho do serviço.
Chegou em menos de 10 minutos de caminhada.
Logo que chegou à delegacia, já notou a ausência do amigo, e tinha a certeza que ele já estava no galpão esperando pelo sujeito que o abordaria.
Mal chegou a delegacia, o telefone do plantão tocou, e ele foi chamado para atender a ocorrência.
Era hora da verdade, ele sentia que era aquela a hora.
Joaquim entrou em uma viatura, e partiu para atender ao chamado.
Chegando ao local indicado pela voz ao telefone, notou a ausência de pessoas em um local que geralmente era movimentado. Realmente aconteceu algo, pensava Joaquim.
Ao descer da viatura, foi abordado por um rapaz com idade igual ou superior a sua, trajando uma jaqueta de couro preta, e uma calça jeans.
Joaquim adormecera devido à inalação de substancias posta a um pano que o abordador fez ele inalar.
Acordou meia hora depois, estava amarrado na cena descrita pelo amigo Rafael.
O sujeito estava sentado à sua frente quando ele acordou.
Com voz alta e em tom intimidador, o abordador começou interrogar-lhe.
Ouviu-se um disparo ao fundo.
Joaquim pode observar de frente ao meliante a morte rápida dele.
Seu amigo tinha conseguido.
Tinha interferido em sua morte.
Joaquim agora lhe devia a vida.
O amigo foi se aproximando de Joaquim.
Joaquim, com lágrimas nos olhos, procurava palavras para agradecer o amigo.
Rafael, com expressão de ódio, ordenou que Joaquim calasse a boca.
Joaquim assustou-se com o tom do amigo.
Rafael, antes de ser impedido de falar pelo Joaquim, continuou sua fala.
_ Você, no fundo, sabia que fui eu quem matou o Cidão, ou pelo menos desconfiava, Joaquim, eu sei, e não podia deixar que isso vazasse, então, inventei essa história toda de vidente para poder me vingar de ti.
Agi perfeitamente, peguei folhas antigas para repassar as ocorrências para não deixar duvidas a ti.
Quanto a esse morto que te abordou. Eu o contratei. Disse para ele fazer o serviço por mim, ele só não sabia que ia ter que morrer também, uma pena pra ele.
Chegou a sua hora Joaquim.
Joaquim estava tremulo e chorando ao ouvir o amigo lhe falar aquilo. E antes que pudesse proferir qualquer palavra ao seu favor, Rafael atirou em Joaquim fazendo seu corpo tombar inerte, e sem vida.
narduci, renato ferreira
Aquilo era tudo para o senhor Rafael Mendes, que era investigador de polícia, mas como sua cidade era pequena e pacata, e o serviço era pouco, ele permanecia na delegacia apenas quando estava de plantão, caso contrário, era naquela sala ao fundo de sua casa que ele gostava de passar as suas horas.
Costumava ficar 12 horas diárias escrevendo seus contos que nunca ninguém lera, não por falta de interesse dos companheiros de trabalho, mas porque ele nunca revelara o que ele gostava de escrever.
Sábado, 1 de novembro de 1997.
Era seu dia de ficar no plantão da delegacia, junto com o seu melhor amigo, o carcereiro Joaquim.
Sempre que ficavam juntos no plantão, a festa estava pronta para eles. Alugavam filmes e passavam a noite inteira assistindo.
Mas aquela noite havia começado diferente, o Rafael não tinha alugado filmes, chegou à delegacia apenas com uma pasta de couro, aparentemente cheia.
Quando todos já tinham se retirado, Rafael sentou-se relaxadamente na cadeira da sala do plantão colocando seus pés sobre a mesa de madeira que ficavam as ocorrências registradas no dia, colocou a pasta de couro preto sobre seu colo, a abriu, e retirou um punhado de folhas grampeadas, estendendo a mão e entregando as folhas ao Joaquim, que estava ao seu lado.
_ O que essas ocorrências fazem com você? – perguntou Joaquim.
_ Joaquim, eu preciso lhe contar um segredo! – disse Rafael, com a voz rouca, e quase inaudível.
_ Não vá me dizer que você roubou essas ocorrências porque é um psicopata, e procura inspiração para matar alguém. – Joaquim ria como um piadista, que de fato era.
_ O caso é sério, Joaquim. Não faça piadas, por favor!
Joaquim aquietou-se ouvindo o que o amigo tinha a lhe dizer.
_ Joaquim, você se lembra do caso do Cidão?
_ Claro que lembro! Coisa estranha, Causa mortis: asfixia. Sem hematomas, sem nenhuma lesão corporal, sem entorpecentes, ele simplesmente parou de respirar.
_ Pegue a terceira ocorrência, dessas que eu te passei!
_ É a ocorrência do Cidão!
_ Sim, é a ocorrência do Cidão; não percebe nada de estranho nessa ocorrência?
_ Como já disse, o motivo da morte do Cidão.
_ Não Joaquim, repare nas letras da ocorrência, na folha, não é a que usamos aqui no plantão.
_ Sim, a folha é pouco maior que a nossa, e ela foi datilografada a maquina.
_ E aparenta ser de mais ou menos quanto tempo, Joaquim?
_ Aparenta ter sido datilografada a um ano, mais ou menos.
_ Exato! E de quando é essa ocorrência?
_ Três semanas?
_ Sim, Três semanas. Joaquim, eu posso estar ficando louco, mas todas essas ocorrências eu registrei exatamente um ano antes de acontecer. É isso que eu fico fazendo em casa, registrando ocorrências que acontecerão um ano depois.
_ Rafael, o que exatamente você está querendo dizer? Que você é algum tipo de vidente?
_ Sim, Joaquim. É exatamente isso.
Joaquim sentou-se com expressão de assustado, não conseguia pronunciar uma palavra sequer.
Rafael fez o mesmo que o amigo, não sabia o que falar também.
Permaneceram por algum tempo um olhando para o outro, até o silencio ser cortado pelo Joaquim.
_ Rafael, porque escondestes tanto tempo esse seu ‘dom’? Poderíamos estar combatendo crimes, evitando acidentes, e essas coisas todas que acontecem diariamente. Diga Rafael, o que ira acontecer amanhã? Perguntava Joaquim com tom de entusiasmo.
_ Joaquim, acalme-se. Não lhe contei antes por causa de um sonho que eu tive quando comecei a ter essas premonições. Sonhei que estava em um lugar vazio, calmo e cheio de neblina, era como se fosse uma cidade abandonada, e nesse lugar tinha mais uma pessoa além de mim, não sei ao certo quem era, mas ele me disse que eu nunca poderia revelar isso a ninguém, e muito menos interferir nos acontecimentos, se eu ousasse infringir uma dessas ‘regras’, eu sofreria sérias conseqüências, e lógico, nunca quis saber que conseqüências eram essas.
Joaquim estava assustado com o que o amigo estava falando. Estaria ele dizendo a verdade?
_ Mas me diga Rafael, você não podia contar isso a ninguém, porque então está me contando? Quer descobrir quais são as conseqüências? Dizia Joaquim sem perder a oportunidade de fazer uma piada.
_ Joaquim, primeiramente, já pedi para que você pare com suas piadas; depois, eu estou te contando porque gosto muito de você, e não quero te perder.
Joaquim assustou-se com a resposta do amigo, mas nada disse para não o interromper.
_ Joaquim, você vai morrer daqui a dois dias, e eu estou disposto a fazer de tudo para evitar que isso aconteça, nunca fiz isso antes, então, não tenho experiência de se irá dar certo, mas tentaremos.
Joaquim estava tremulo naquele momento. Sim, o amigo estava dizendo a verdade, conhecia muito bem aquele sujeito, sabia o quão sério ele era.
_ Como irei morrer? Quis saber Joaquim
_ Você não irá morrer Joaquim, eu não permitirei isso.
_ Mas se caso aconteça, como será minha morte?
_ Vitima da violência. Você será seqüestrado, amarrado em um galpão abandonado, irão te pedir informações sobre seu passado, você se negará a fornecer, e então, receberá um tiro.
_ E como você fará pra me livrar dessa, Rafael?
_ Já pensei nisso Joaquim. Eu sei em qual galpão irão te levar. Ficarei lá, escondido, esperando te levarem. Quando você já estiver amarrado, eu atiro no seqüestrador, e te solto. Daí para frente, não sei o que fazer. Agora você, é só seguir seu dia normalmente, a morte lhe procurará.
Joaquim chegou em casa, estava triste, não tinha certeza da eficácia do plano do amigo. Não quis comer, então foi direto para cama, o relógio indicava 12:35. Sua mulher o perguntou se ele estava bem, ele respondeu meneando a cabeça de modo a afirmar. As únicas palavras por ele pronunciadas foram:
_ Estou cansado, preciso dormir.
Já passava das 19 horas quando Joaquim acordou, ainda estava muito assustado com o que o amigo dissera, e para piorar tinha tido um pesadelo sobre o assunto.
Joaquim levantou-se e dirigiu-se à cozinha a fim de preparar algo para comer, ele precisava se alimentar, já estava a algum tempo sem nada comer, e precisaria estar bem alimentado para enfrentar o que o dia seguinte lhe reservara.
Com sua filha e com sua mulher, ele tentava agir normalmente para não preocupa-las.
Joaquim sempre fora muito religioso, e enquanto sua família ficava posta à sala assistindo à programação aberta que passava, ele rezava cabisbaixo para ninguém perceber sua preocupação.
Se tudo ocorresse bem, ele deveria sua vida ao amigo que lhe salvara.
Mas não era hora de pensar em retribuições; sua vida estava em contagem regressiva.
Era mais de meia noite quando todos já tinham se deitado, ele, como já havia dormido a tarde inteira por causa do plantão que tivera na noite anterior, não estava com sono, então ficou um pouco mais na sala da residência, indo se deitar somente após as duas da manhã.
No dia seguinte poderia dormir até a hora desejada, pois era sua folga.
Domingo, 2 de novembro de 1997
Após Joaquim acordar, levantou-se e viu o lindo sol que já havia aparecido, ouvia atentamente o canto dos pássaros e observava as flores lindas, frutos de uma bela primavera. Pode perceber o quão frágil era a vida. Naquele momento, percebia a perfeição da natureza, e os quão ignorantes eram os homens.
Seu olhar triste revelava que ele estava de luto antes de seu próprio velório.
De alguma forma, sentia a morte se aproximar lentamente.
Sabia que aquele seria seu ultimo dia de vida.
Não sabia que hora ele pereceria no dia seguinte. O amigo Rafael preferiu não lhe revelar, para que deixasse o livre arbítrio agir.
Aquele não era um domingo comum. Ele não saíra com sua esposa e com sua filha para se divertir, mas deixou que elas saíssem sozinhas, ele queria ficar só para refletir sobre seus erros, ao longo de sua vida.
A noite não tardou ao chegar.
Com sua família de volta em casa, Joaquim beijou o rosto de sua filha, disse a ela que a amava, e não se contendo, derrubou algumas lágrimas, que passaram imperceptíveis aos olhos dela.
Deitou-se ao lado de sua esposa, e adormecera.
Segunda-feira, 3 de novembro de 1997.
Joaquim acordou com o som do despertador.
Não mais se preocupava consigo mesmo, mas sim com sua família, o que fariam dali pra frente? Joaquim nem imaginava como seria a vida das duas se ele morresse naquele dia.
Já estava com a roupa que iria trabalhar, já tinha tomado seu café matutino, estava a caminho do serviço.
Chegou em menos de 10 minutos de caminhada.
Logo que chegou à delegacia, já notou a ausência do amigo, e tinha a certeza que ele já estava no galpão esperando pelo sujeito que o abordaria.
Mal chegou a delegacia, o telefone do plantão tocou, e ele foi chamado para atender a ocorrência.
Era hora da verdade, ele sentia que era aquela a hora.
Joaquim entrou em uma viatura, e partiu para atender ao chamado.
Chegando ao local indicado pela voz ao telefone, notou a ausência de pessoas em um local que geralmente era movimentado. Realmente aconteceu algo, pensava Joaquim.
Ao descer da viatura, foi abordado por um rapaz com idade igual ou superior a sua, trajando uma jaqueta de couro preta, e uma calça jeans.
Joaquim adormecera devido à inalação de substancias posta a um pano que o abordador fez ele inalar.
Acordou meia hora depois, estava amarrado na cena descrita pelo amigo Rafael.
O sujeito estava sentado à sua frente quando ele acordou.
Com voz alta e em tom intimidador, o abordador começou interrogar-lhe.
Ouviu-se um disparo ao fundo.
Joaquim pode observar de frente ao meliante a morte rápida dele.
Seu amigo tinha conseguido.
Tinha interferido em sua morte.
Joaquim agora lhe devia a vida.
O amigo foi se aproximando de Joaquim.
Joaquim, com lágrimas nos olhos, procurava palavras para agradecer o amigo.
Rafael, com expressão de ódio, ordenou que Joaquim calasse a boca.
Joaquim assustou-se com o tom do amigo.
Rafael, antes de ser impedido de falar pelo Joaquim, continuou sua fala.
_ Você, no fundo, sabia que fui eu quem matou o Cidão, ou pelo menos desconfiava, Joaquim, eu sei, e não podia deixar que isso vazasse, então, inventei essa história toda de vidente para poder me vingar de ti.
Agi perfeitamente, peguei folhas antigas para repassar as ocorrências para não deixar duvidas a ti.
Quanto a esse morto que te abordou. Eu o contratei. Disse para ele fazer o serviço por mim, ele só não sabia que ia ter que morrer também, uma pena pra ele.
Chegou a sua hora Joaquim.
Joaquim estava tremulo e chorando ao ouvir o amigo lhe falar aquilo. E antes que pudesse proferir qualquer palavra ao seu favor, Rafael atirou em Joaquim fazendo seu corpo tombar inerte, e sem vida.
narduci, renato ferreira
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Horror na mansão
Passaram-se três meses e a gente ainda naquela casa, não sei como agüentamos ficar num lugar desses tanto tempo assim, a casa realmente era macabra. Talvez a casa me desse tanto medo pelo assassinato que teve nela com os antigos moradores, pensava eu, cada vez que eu ia para a varanda acender um cigarro e ouvir o bom e velho disco Led Zeppelin, ouvia barulhos dentro de casa, como se minhas filhas estivessem discutindo mais uma vez para ver quem iria ser o papai e a mamãe na brincadeira, sempre brigava com elas por atormentarem o único momento de sossego que eu tinha depois do meu exaustivo dia de serviço, e realmente, eu só não havia pedido a conta ainda, porque o salário era muito bom. Pensava estar ficando louco quando minha mulher falava que já havia colocado elas para dormir.
Seria possível que as almas das filhas do antigo dono estivessem ali? Me perguntava.
Deve ter sido algo realmente terrível, o pai chegar embriagado em casa, e após uma discussão com as filhas porque elas queriam ficar brincando até tarde, descer à cozinha escolher a faca ideal para executar o serviço, e mata-las.
Como um pai teria coragem de fazer aquilo com suas próprias filhas?
Com certeza não foi por influência do álcool.
Colocava-me no lugar dele, e, por mais bêbado, e estressado que eu estivesse, iria chegar em casa e beijar minhas filhas, até mesmo sentar no chão para brincar com elas, se assim elas quisessem.
E sim, durante esses três meses toda quinta-feira, eu nem sei porque na droga de quinta-feira, mas eram todas iguais naquela casa. Toda quinta eu e a minha mulher brigávamos, toda quinta eu não conseguia dormir direito com o barulho de passos no taco do quarto de brinquedos, e todas as quintas quando acordava tinha uma boneca no chão frente à porta do meu quarto, e não sei porque, mas, só eu que ouvia e via essas coisas. Tentava de diversas formas mudar o dia, mas sempre acabava sendo o mesmo, pelo menos dentro daquela casa.
Com minha mulher e meus amigos falando que eu estava ficando louco e que o serviço estava acabando comigo, realmente achei que o problema era esse, foi então que procurei ajuda de um psiquiatra. Para tentar sair da rotina, fui no psiquiatra numa quinta feira depois do serviço, que o qual, me medicou com remédios anti-estresse. Achei besteira gastar todo aquele dinheiro com remédios para desestressar, estava pensando em outra solução, férias talvez.
Chegando em casa, tirei minha roupa, e fui tomar um banho para relaxar um pouco, acabei meu banho coloquei uma cueca e deitei-me do lado de minha mulher para dormir. Sim eu tinha conseguido quebrar a rotina daquela quinta, acho que até por isso que eu consegui pegar no sono mais facilmente.
Acordei, olhei no relógio que indicava 3:15 da manhã, não costumava ter insônias, porque estaria acordado aquela hora?
Levantei-me e fui à cozinha, como se alguma coisa me chamasse lá, não algo que dava pra escutar, mas sim a sensação que eu estava tendo, de que era pra eu ir lá.
Cheguei à porta da cozinha, vi um senhor, aparentemente da minha idade de costas. Ele sem notar a minha presença; peguei uma faca em cima da mesa e parti pra cima do invasor, dei diversas facadas em suas costas. Enquanto eu me distanciava do corpo inerte, e em pé à minha frente ele se virou, e com um sorriso irônico disse-me:
_Eu já morri senhor! Estou aqui, para te dizer que entregue essa casa de volta para minha família, estou te pedindo para que saia dela; e sim, eu matei as minhas filhas, mais foi o maior erro da minha vida, e por isso que eu me matei logo após, não podia viver com essa culpa.
Chocado com o que aquele senhor estava me falando, não conseguia pronunciar uma só palavra, fiquei inerte vendo o corpo dele sumir à minha frente, junto com a marca de sangue deixada ao chão, à faca e ao meu corpo.
Fui dormir, teria sido uma alucinação? Perguntava-me. Não, não tinha sido uma alucinação.
Acordei para trabalhar, aquela monotonia do serviço me deixava pensando ainda mais no ocorrido, talvez teria sido melhor eu ter ouvido a voz das crianças brigando se misturando com a guitarra do Jimmy Page, teria sido mais normal.
Espera-ia uma semana a mais para ver o que aconteceria na próxima quinta? Ou me mudaria de lá?
Lógico que qualquer pessoa sensata se mudaria na hora, mas o que a família diria dele? A família toda gostava daquela casa.
Esperarei, me decidi.
A semana longa e sem novidades além daquele “normal - anormal” na casa encerrou-se.
Sim hoje é quinta feira, e o horário de eu voltar para casa está chegando.
Cheguei em casa, preferi fazer o mesmo de sempre. Fui até a varanda, coloquei o disco do Led para tocar, e acendi um cigarro. Eis que as crianças começam a gritar, não mais discutir como antes, mas sim gritos apavorantes como se precisassem de socorro. Repousei o cigarro ao cinzeiro, e subi ao quarto de brinquedos, de onde aparentemente vinham os barulhos. Antes não tivesse ido até lá.
Tal cena me trouxe à realidade, quando entrei no quarto pude me ver matando a facadas as minhas próprias filhas.
E sim, agora eu estava morto, eu tinha matado as minhas filhas e me matado logo após.
Minha mulher havia fugido de casa após encontrar nossas filhas e eu mortos.
narduci, renato ferreira
Seria possível que as almas das filhas do antigo dono estivessem ali? Me perguntava.
Deve ter sido algo realmente terrível, o pai chegar embriagado em casa, e após uma discussão com as filhas porque elas queriam ficar brincando até tarde, descer à cozinha escolher a faca ideal para executar o serviço, e mata-las.
Como um pai teria coragem de fazer aquilo com suas próprias filhas?
Com certeza não foi por influência do álcool.
Colocava-me no lugar dele, e, por mais bêbado, e estressado que eu estivesse, iria chegar em casa e beijar minhas filhas, até mesmo sentar no chão para brincar com elas, se assim elas quisessem.
E sim, durante esses três meses toda quinta-feira, eu nem sei porque na droga de quinta-feira, mas eram todas iguais naquela casa. Toda quinta eu e a minha mulher brigávamos, toda quinta eu não conseguia dormir direito com o barulho de passos no taco do quarto de brinquedos, e todas as quintas quando acordava tinha uma boneca no chão frente à porta do meu quarto, e não sei porque, mas, só eu que ouvia e via essas coisas. Tentava de diversas formas mudar o dia, mas sempre acabava sendo o mesmo, pelo menos dentro daquela casa.
Com minha mulher e meus amigos falando que eu estava ficando louco e que o serviço estava acabando comigo, realmente achei que o problema era esse, foi então que procurei ajuda de um psiquiatra. Para tentar sair da rotina, fui no psiquiatra numa quinta feira depois do serviço, que o qual, me medicou com remédios anti-estresse. Achei besteira gastar todo aquele dinheiro com remédios para desestressar, estava pensando em outra solução, férias talvez.
Chegando em casa, tirei minha roupa, e fui tomar um banho para relaxar um pouco, acabei meu banho coloquei uma cueca e deitei-me do lado de minha mulher para dormir. Sim eu tinha conseguido quebrar a rotina daquela quinta, acho que até por isso que eu consegui pegar no sono mais facilmente.
Acordei, olhei no relógio que indicava 3:15 da manhã, não costumava ter insônias, porque estaria acordado aquela hora?
Levantei-me e fui à cozinha, como se alguma coisa me chamasse lá, não algo que dava pra escutar, mas sim a sensação que eu estava tendo, de que era pra eu ir lá.
Cheguei à porta da cozinha, vi um senhor, aparentemente da minha idade de costas. Ele sem notar a minha presença; peguei uma faca em cima da mesa e parti pra cima do invasor, dei diversas facadas em suas costas. Enquanto eu me distanciava do corpo inerte, e em pé à minha frente ele se virou, e com um sorriso irônico disse-me:
_Eu já morri senhor! Estou aqui, para te dizer que entregue essa casa de volta para minha família, estou te pedindo para que saia dela; e sim, eu matei as minhas filhas, mais foi o maior erro da minha vida, e por isso que eu me matei logo após, não podia viver com essa culpa.
Chocado com o que aquele senhor estava me falando, não conseguia pronunciar uma só palavra, fiquei inerte vendo o corpo dele sumir à minha frente, junto com a marca de sangue deixada ao chão, à faca e ao meu corpo.
Fui dormir, teria sido uma alucinação? Perguntava-me. Não, não tinha sido uma alucinação.
Acordei para trabalhar, aquela monotonia do serviço me deixava pensando ainda mais no ocorrido, talvez teria sido melhor eu ter ouvido a voz das crianças brigando se misturando com a guitarra do Jimmy Page, teria sido mais normal.
Espera-ia uma semana a mais para ver o que aconteceria na próxima quinta? Ou me mudaria de lá?
Lógico que qualquer pessoa sensata se mudaria na hora, mas o que a família diria dele? A família toda gostava daquela casa.
Esperarei, me decidi.
A semana longa e sem novidades além daquele “normal - anormal” na casa encerrou-se.
Sim hoje é quinta feira, e o horário de eu voltar para casa está chegando.
Cheguei em casa, preferi fazer o mesmo de sempre. Fui até a varanda, coloquei o disco do Led para tocar, e acendi um cigarro. Eis que as crianças começam a gritar, não mais discutir como antes, mas sim gritos apavorantes como se precisassem de socorro. Repousei o cigarro ao cinzeiro, e subi ao quarto de brinquedos, de onde aparentemente vinham os barulhos. Antes não tivesse ido até lá.
Tal cena me trouxe à realidade, quando entrei no quarto pude me ver matando a facadas as minhas próprias filhas.
E sim, agora eu estava morto, eu tinha matado as minhas filhas e me matado logo após.
Minha mulher havia fugido de casa após encontrar nossas filhas e eu mortos.
narduci, renato ferreira
Introdução
Blog criado para publicação de meus contos.
Todos os contos aqui postados, são de minha autoria, e cabe apenas a mim altera-los ou não.
Caros leitores, espero que gostem.
Dúvidas ou sugestões podem ser encaminhadas ao meu e-mail; segue:
renatonarduci@hotmail.com
obrigado pela vossa atenção, e boa leitura.
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