quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Horror na mansão

Passaram-se três meses e a gente ainda naquela casa, não sei como agüentamos ficar num lugar desses tanto tempo assim, a casa realmente era macabra. Talvez a casa me desse tanto medo pelo assassinato que teve nela com os antigos moradores, pensava eu, cada vez que eu ia para a varanda acender um cigarro e ouvir o bom e velho disco Led Zeppelin, ouvia barulhos dentro de casa, como se minhas filhas estivessem discutindo mais uma vez para ver quem iria ser o papai e a mamãe na brincadeira, sempre brigava com elas por atormentarem o único momento de sossego que eu tinha depois do meu exaustivo dia de serviço, e realmente, eu só não havia pedido a conta ainda, porque o salário era muito bom. Pensava estar ficando louco quando minha mulher falava que já havia colocado elas para dormir.
Seria possível que as almas das filhas do antigo dono estivessem ali? Me perguntava.
Deve ter sido algo realmente terrível, o pai chegar embriagado em casa, e após uma discussão com as filhas porque elas queriam ficar brincando até tarde, descer à cozinha escolher a faca ideal para executar o serviço, e mata-las.
Como um pai teria coragem de fazer aquilo com suas próprias filhas?
Com certeza não foi por influência do álcool.
Colocava-me no lugar dele, e, por mais bêbado, e estressado que eu estivesse, iria chegar em casa e beijar minhas filhas, até mesmo sentar no chão para brincar com elas, se assim elas quisessem.
E sim, durante esses três meses toda quinta-feira, eu nem sei porque na droga de quinta-feira, mas eram todas iguais naquela casa. Toda quinta eu e a minha mulher brigávamos, toda quinta eu não conseguia dormir direito com o barulho de passos no taco do quarto de brinquedos, e todas as quintas quando acordava tinha uma boneca no chão frente à porta do meu quarto, e não sei porque, mas, só eu que ouvia e via essas coisas. Tentava de diversas formas mudar o dia, mas sempre acabava sendo o mesmo, pelo menos dentro daquela casa.
Com minha mulher e meus amigos falando que eu estava ficando louco e que o serviço estava acabando comigo, realmente achei que o problema era esse, foi então que procurei ajuda de um psiquiatra. Para tentar sair da rotina, fui no psiquiatra numa quinta feira depois do serviço, que o qual, me medicou com remédios anti-estresse. Achei besteira gastar todo aquele dinheiro com remédios para desestressar, estava pensando em outra solução, férias talvez.
Chegando em casa, tirei minha roupa, e fui tomar um banho para relaxar um pouco, acabei meu banho coloquei uma cueca e deitei-me do lado de minha mulher para dormir. Sim eu tinha conseguido quebrar a rotina daquela quinta, acho que até por isso que eu consegui pegar no sono mais facilmente.
Acordei, olhei no relógio que indicava 3:15 da manhã, não costumava ter insônias, porque estaria acordado aquela hora?
Levantei-me e fui à cozinha, como se alguma coisa me chamasse lá, não algo que dava pra escutar, mas sim a sensação que eu estava tendo, de que era pra eu ir lá.
Cheguei à porta da cozinha, vi um senhor, aparentemente da minha idade de costas. Ele sem notar a minha presença; peguei uma faca em cima da mesa e parti pra cima do invasor, dei diversas facadas em suas costas. Enquanto eu me distanciava do corpo inerte, e em pé à minha frente ele se virou, e com um sorriso irônico disse-me:
_Eu já morri senhor! Estou aqui, para te dizer que entregue essa casa de volta para minha família, estou te pedindo para que saia dela; e sim, eu matei as minhas filhas, mais foi o maior erro da minha vida, e por isso que eu me matei logo após, não podia viver com essa culpa.
Chocado com o que aquele senhor estava me falando, não conseguia pronunciar uma só palavra, fiquei inerte vendo o corpo dele sumir à minha frente, junto com a marca de sangue deixada ao chão, à faca e ao meu corpo.
Fui dormir, teria sido uma alucinação? Perguntava-me. Não, não tinha sido uma alucinação.
Acordei para trabalhar, aquela monotonia do serviço me deixava pensando ainda mais no ocorrido, talvez teria sido melhor eu ter ouvido a voz das crianças brigando se misturando com a guitarra do Jimmy Page, teria sido mais normal.
Espera-ia uma semana a mais para ver o que aconteceria na próxima quinta? Ou me mudaria de lá?
Lógico que qualquer pessoa sensata se mudaria na hora, mas o que a família diria dele? A família toda gostava daquela casa.
Esperarei, me decidi.
A semana longa e sem novidades além daquele “normal - anormal” na casa encerrou-se.
Sim hoje é quinta feira, e o horário de eu voltar para casa está chegando.
Cheguei em casa, preferi fazer o mesmo de sempre. Fui até a varanda, coloquei o disco do Led para tocar, e acendi um cigarro. Eis que as crianças começam a gritar, não mais discutir como antes, mas sim gritos apavorantes como se precisassem de socorro. Repousei o cigarro ao cinzeiro, e subi ao quarto de brinquedos, de onde aparentemente vinham os barulhos. Antes não tivesse ido até lá.
Tal cena me trouxe à realidade, quando entrei no quarto pude me ver matando a facadas as minhas próprias filhas.
E sim, agora eu estava morto, eu tinha matado as minhas filhas e me matado logo após.
Minha mulher havia fugido de casa após encontrar nossas filhas e eu mortos.



narduci, renato ferreira

7 comentários:

  1. Ótimo conto!muito diferente das mesmas estórias que já li por ai!

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  2. pq vc não posta em uma comunidade de contos?ia fazer sucesso...

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  3. eu já postei em o orkut, mas tem muitos contos melhores que os meus, prefiro apenas ler lá :)

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  4. Ah deixa disso!A comu que eu frequento tem gente mil vezes pior e os outros ainda aplaudem!

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  5. você vai virar produtor de filmes de terror! adorei.

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  6. aaaacha.
    eu li esse contoo a muuuuuuito tempo! na escola, em papel! haha peerfeito, Re! ;D

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