terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mentes Fracas

O telefone emitia incessavelmente um estridente ruído que se misturava com a música ambiente vinda da sala de centro daquela enorme casa.
Uma festa jovial acontecia lá, com muitas pessoas, músicas, bebidas, risadas, conversas e casualmente sexo e drogas.
Com os pais afastados do local, aquela jovem e linda garota dos cabelos pretos como o céu naquele momento e os olhos tão verdes que ora podia ser confundido com uma esmeralda, encostada no balcão da “cozinha americana”, se fez alerta ao som emitido pelo pequeno aparelho pendurado na parede ao seu lado, mas evitou que qualquer pessoa pudesse atender.
Seu nome era Ana por vontade de sua mãe, que sempre admirara esse lindo nome, e agora se fazia perfeito com a linda garota.
A festa continuava, assim como o som do telefone. Quase o desconectando do interruptor que o mantinha ligado, o som da música e apouca iluminação presente foram cessados simultaneamente.
Ana assustou-se levemente com o ocorrido, e dirigiu-se à chave que mantinha a energia da casa funcionando. Ao verificá-la, percebeu que estava normal. Apenas o telefone continuava emitindo som. Tão somente o telefone. Ana quase desmaiou ao perceber que nenhuma pessoa lá presente pronunciava algo, nem se quer moviam-se.
Tudo parecia desligado, exceto ela e o telefone. Algo sobrenatural acontecia lá.
Ana, com a pele mais pálida do que de costume, atendeu ao telefone, e a pronunciar uma saudação, foi derrubada por um som imensamente alto e agudo, deixando-a com a audição afetada por alguns minutos.
Ana adormecera caída ao chão daquele lugar, mas logo fora acordada por um ou dois jovens que lá estavam.
Com a consciência retomada, Ana percebeu que tudo estava de volta como antes, sem que nada tivesse acontecido.
A todos que a menina dos cabelos negros perguntava sobre o ocorrido, diziam-na que nada de incomum havia acontecido.
Ana chegou à conclusão que havia sido um sonho, um sonho que a deixou amedrontada; um sonho que realmente acontecera. Percebeu que realmente aconteceu, quando observou o telefone jogado ao chão, assim como ela estava há minutos atrás.
A festa só chegou ao fim com o surgimento do sol, uma linda bola amarela que trazia vida à tudo o que era visível ao redor.
Exausta de toda música e ocorridos na festa, Ana deitou-se, e, agora sim adormecera, desligando-se totalmente de seu corpo.
Enquanto dormia, Ana ouvia vozes que não existiam, ao menos para quem estava consciente.
Com a boca amarga e seca, Ana levantou-se inconsciente e dirigiu-se à cozinha, a fim se saciar sua interminável sede.
Ana despediu-se de seu pai, que estava assistindo televisão na sala, e voltou ao seu quarto escuro, embora o relógio indicasse 14h00min.
Já deitada na cama, e consciente agora, a menina se colocou a pensar no ocorrido com ela e com as estátuas humanas durante a festa, foi quando teve o corpo arrepiado, ao se lembrar do telefone, das vozes e de que seus pais estavam viajando.
Como que, por instinto, Ana encolheu-se na cama e logo se pôs em pé, se dirigindo à sala, lugar que aparentemente havia visto o seu pai.
Chegando ao local, Ana não pode ver nada mais do que o cômodo em plena ordem e sem visitante sobrenatural algum.
Novamente um susto, antes de dormir, a casa estava em desordem total, deixada assim pelos participantes da festa.
Visitou todos os cômodos da casa, a fim de achar qualquer vestígio de que lá havia tido uma festa ainda aquela noite, mas nada encontrou.
O pavor que Ana sentia, era como um truque de sua mente. Ana nada entendia, apenas sentia a fadiga de seu corpo e tornou a deitar-se em seu quarto.
Uma voz rouca e fantasmagórica tomou conta do ambiente, fazendo com que a menina derrubasse algumas lágrimas e pedisse para que a deixasse em paz.
A voz ficou ainda mais forte e cessou a fala indecifrável do mesmo modo que surgiu.
O telefone tocou.
Ana, agora vivenciando um filme de terror, na qual era a protagonista, desceu a escadaria de seu quarto e foi à part na qual se situava o telefone que Ana ouvira aquele estridente som.
Ana atendeu, e agora, a mesma voz sobrenatural que havia invadido seu quarto, a saudou e ordenou-a que cometesse suicídio.
Ana, como que hipnotizada, desligou o telefone, voltou a subir a escadaria que levava-a ao seu quarto, e do piso superior, se atirou no centro da sala. Sala que há horas atrás havia sido cenário de alegria, tomava agora o ar fúnebre.
O dia se passou, assim como a noite; e esse processo chamado tempo fez com que seus pais voltassem, encontrando-a morta naquele ambiente fétido.
A polícia não tardou a chegar assim que acionada pelos pais da menina linda dos cabelos negros e olhos cor-de-esmeralda.
Não tão rápido quanto os policiais, mas tão eficaz quanto, o motivo do óbito foi revelado, o qual mostrou que Ana havia ingerido uma grande quantia de ecstasy e cometido suicídio horas após.
O que a perícia não revela, e ninguém sabe, é o terror que Ana sofreu.





narduci, renato ferreira.